Antonio Nunes de
Souza*
Parecia
uma das maravilhosas aeronaves fabricadas pela Embraer. Linhas modernas, bem
turbinada, andava como se estivesse flutuando, fazia com que nos sentíssemos no
céu e, qualquer um desejaria fazer um passeio aéreo dentro daquela beldade. Um
verdadeiro avião!
Essa
era a linda mulher, com seus vinte e seis anos, que morava no meu edifício no
apartamento quinhentos e dezoito. Morava sozinha, mas não precisava de
companhia, pois ela valia uma multidão de mulheres. Secretária executiva,
sempre bem trajada, perfumada e provocante, parecia um Boing quando estava no
alto dos sapatos de saltos gigantescos. Sinceramente, era tudo que alguém
poderia desejar para fazer um constante passeio turístico nas asas desse jatão
feminino!
Eu,
morador da cobertura, com meus sessenta anos, industrial aposentado, meio
gordinho, careca, nada tinha que pudesse de alguma forma entusiasmar aquela
mulher. A não ser, claro, ser aquinhoado com uma boa grana, ser viúvo, não ter
filhos, etc., sendo então um homem que, uma mulher inteligente, gostaria de
investir. Sempre nos encontrávamos no elevador, nos cumprimentávamos com certa
seriedade, mas, com o tempo comecei a perceber que ela estava me dando mole, talvez
aterrissar na minha careca privilegiada e asfaltada de dólares. Lógico que
senti seu interesse, mas, por ser puta velha e experiente, sei que nesses casos
o que vale é seguir a nobre oração de S. Francisco: É dando que se recebe!
Um
belo dia a convidei para jantar em um restaurante da moda, daqueles que os
pratos são pequenos, mas, os preços são enormes. E, pelo flerte que estávamos
tendo, ela aceitou tranqüila e cheia de dengos. Saímos, jantamos, tomamos um
bom vinho de safra privilegiada, procurando entusiasmá-la como sempre fazemos
quando queremos conquistar e mostrar que somos melhores que os nossos concorrentes
“barriguinhas de tanquinhos” que, quando muito, levam elas para comer hot-dog
ou churrasquinho de gato!
Posso
dizer que foi uma noite agradável, nos despedimos com um beijinho na face, mas,
se eu quisesse, teria rolado algo mais. Porém, não quis ser afobado fazendo
check-in na primeira viagem. Continuamos saindo, começamos a namorar, passamos
a ter um caso, então ela entregou o AP que morava e pertencia a um tio e, como
morava em NY, ela tomava conta do imóvel na sua ausência. E passou a morar comigo,
deixou o trabalho atendendo um meu pedido, pois minha condição financeira
permitia muito bem, passamos os dois a curtir as delícias da vida, com viagens,
passeios, saídas, eventos, etc., não tendo queixas de nada que nos perturbasse.
Ela
continua uma maravilha, temos dois filhos, um com doze anos que tem traços
nipônicos e, curiosamente, é a cara do japa do trezentos e quatorze, e o outro
caçula é lindo com olhos verdes, cabelos cacheados e, por conhecidência é
parecidíssimo com o italiano do quinhentos e dezessete. Os dois são umas
gracinhas!
Agora
para me chatear, um amigo meu veio, cheio de pudores e preocupações me dizer
que ela me engana e transa com outros. Que eu deveria procurar uma mulher da
minha idade para realmente morar comigo. Eu, prontamente, respondi: Prefiro
comer pudim com os outros, que comer merda sozinho!
*Escritor
– antoniomanteiga.blogspot.com – Membro da Academia Grapiúna de Letras
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