Antonio Nunes de Souza*
-Você vai ao baile funk
hoje Luiza?
-Com
certeza, mana! Você acha que vou ficar de fora nessa parada muito “loka”, que
além de um puto paredão, tem ainda Quebra Barraco bombando no pedaço?
-Pô, vai ser a
maior zueira e a galera vai ficar muito doidona! Preciso arranjar uma desculpa
muito firme com os coroas, pois, saí a semana toda, e a patrulha tá toda de
cara amarrada pegando no meu pé.
-Qualé otária! Diz que
vai dormir lá em casa, porque vamos fazer uma prova fera amanhã, e precisamos
estudar até tarde. Quando se fala que é para estudar eles abrem a guarda.
-Caracas! Você é foda,
além de ter a sorte de morar sozinha com seu pai, que é super liberal, ainda é
espertíssima para arquitetar as maiores tramas pelo bem da liberdade!
Armado o esquema, mesmo
com a desconfiança de sempre, os pais de Regininha permitiram que ela fosse
dormir na casa de Luiza, embora essa desculpa já tivesse sido usada em outras
ocasiões sendo mentira e, algumas poucas vezes, como verdade.
Regininha saiu para sua
escola, que era noturna, levando nas costas a sacola recheada com roupas
apropriadas, para não fazer feio quando chegasse no “Tigrão das Cachorras”,
clube onde se apresentaria além de Quebra barraco, mais uma meia dúzia MCs, DJs
e as porras todas. Tudo indicava que seria mais uma longa noite de loucura,
apelidada pela muito doida juventude, simplesmente de balada muito irada e
cheia de babados prazerosos!
Lá se encontrou com
Luiza, e não ficaram nem para as duas últimas aulas, pois, estavam tão
frenéticas e excitadas, que queriam logo colocar suas minúsculas indumentárias,
babilaques, pinturas, dar um trato nos cabelos, e seja lá o que diabo quiser e Deus
permitir.
E assim foi feito.
Regininha colocou uma micro saia bem abaixo da virilha, aparecendo àquela
penugem que dá uma tesão terrível nos homens, distanciava dos joelhos mais de
um palmo, deixando que fosse vista sua calcinha preta tamanho molecular, com o
mínimo movimento que ela fizesse. Seu corpete cobria apenas um terço dos seus
peitinhos lindos e empinados, deixando a barriguinha de fora com aquele
umbiguinho profundo e sedutor, como se fosse um olho piscando quando ela se
movimentava, convidando os gatos para agarra-la pela cintura. Além de tudo
isso, colocou três piecings em cada orelha e um no nariz e na sobrancelha, se
olhou no espelho achando-se linda, borrifou perfume nas axilas e no corpo,
pegou Luiza pela mão, e seguiram as duas para enfrentar uma noite de curtição.
Ambas eram bonitas, e
Luiza não deixou por menos no seu visual, mandou ver como manda o figurino,
ficando uma perfeita “cachorrona” pra dominar o pedaço e ficar numa boa.
Quando entraram no
salão, a zorra estava lotada e todos, freneticamente, dançavam e cantavam o hit
do momento: Se ela dança eu danço, se ela dança eu danço...
Aí, elas não perderam
tempo, entraram na primeira fila que passou, exatamente aquela que tudo mundo
vai se esfregando mais do sabão na mão de lavadeira em beira de rio. O
trenzinho era gigantesco e ia cortando o salão entre apertos e empurrões,
deixando todos alegres e excitados pelos contatos, esfregações e agarrações por
todos os lados.
Não sei de onde,
surgiram dois caras sarados e vestidos também a caráter para o ambiente,
ofereceram uma bebida para elas, que não se fizeram de rogadas, e tomaram de
uma talagada só. Então, quando o DJ soltou lá de cima a música “Poderoooosa”,
não deu outra. Começou a beijação, mão naquilo, aquilo na mão, esfregação de
bundinha e o diabo começou a tomar conta da galera, e ninguém era mais de
ninguém. O cheiro azedo de suor misturado com os perfumes de terceira, aliados
ao jogo de luzes apagando e acendendo e o aroma de mato queimado, davam a
impressão que o cavernoso ambiente, fosse aquilo que imaginamos ser o inferno,
comemorando carnaval ou aniversário de Lúcifer. Quem estava menos doido se
desse três passos, tropeçava quatro.
E a balada não parava
não! Todos gritando, cantando e gemendo, mesmo já estando pra lá de Bagdá,
ainda contavam com a presença de Quebra Barraco, (a Madona do morro), que
fecharia a noite com chave de ouro.
Nesse momento,
uma briga daquelas que começa com dois e vai envolvendo todos, começou a
deslanchar pelo grande salão, voando copos, cadeiras, garrafas, tênis e o que
tivessem pela frente e, de repente, ouviu-se dois estampidos característicos de
arma de fogo, vindos não sei de onde, indo um deles alojar-se bem na testa de
Regininha, que caiu imediatamente sem ter tempo nem de fechar os olhos.
Todo mundo saiu em
disparada, deixando o salão vazio em menos de dois minutos, ficando apenas
Luiza que, sentada no chão ao lado do corpo da amiga, chorava copiosamente pela
desgraça ocorrida.
Pobre Regininha. Foi
para a balada e morreu baleada!
Infelizmente, esse é o
comportamento usual da juventude atual!
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos
membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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