Antonio Nunes de Souza*
Voltando
de uma reunião, noite chuvosa desse inverno que inicia friorento, as ruas
desertas e mal iluminadas e, bem de repente, vislumbrou um vulto em minha
frente, tão inesperado que não deu tempo para que eu freasse totalmente o carro,
evitando assim o atropelo. Senti a forte batida, desci rapidamente do carro,
deparando com uma mulher e sua sombrinha arrebentada ao seu lado. Ela gemia de
dores, mas, aparentemente, não vi sinais de sangue. Comecei a levanta-la com o
máximo cuidado, enquanto ela me dizia que colocou a sombrinha na frente por
causa do vento e, dessa forma, se desorientou, terminando indo parar no meio da
pista, que na verdade eu não tinha nenhuma culpa pelo ocorrido. Mas, com culpa
ou não, peguei-a com cuidado, colocando-a no carro e segui para uma Clínica que
sabia ser perto de onde estávamos. Ela relutou um pouco, achando que poderia ir
para casa, mas, insisti que fôssemos ver clinicamente, se havia ocorri algo de
anormal. Ela assentiu, e assim fomos!
Ao
chegar, dirigi-me ao balcão de atendimento, felizmente não havia maiores
movimentações, e imediatamente a recepcionista fez a ficha, nos mandou entrar
numa sala, onde estava uma médica, que deveria ser a plantonista, que daria a
assistência devida. Ela colocou a mulher numa cama de exames, solicitou a minha
saída, no sentido de proceder os exames mais meticulosamente possível.
Passados
uns trinta minutos, as duas saíram da sala, a mulher já com outro semblante,
mesmo pouco desarrumada e preocupada em chegar em casa. Não ligamos avisando do
fato, porque ela preferiu para não os preocupassem, já que não aconteceu nada
de grave, apenas a pancada, que deixou um lado das suas costas arroxeado. Sobre
a médica, tive duas curiosidades, mediante sua beleza: olhei seu nome no jaleco
(Dra. Juliana) e vi também suas mãos, que não tinha nenhuma aliança. Nos
despedimos, pegamos a receita das medicações passadas, paguei o atendimento, e
a médica falou que qualquer coisa, podíamos ir lá procura-la!
Fui
levar a Carolina em casa (vi seu nome no preenchimento da ficha), dei o meu
cartão colocando-me a disposição de qualquer coisa que ela desejasse ou fosse
preciso, decorrente do acidente. Mas, ela disse que estava tudo bem, porém, me
daria notícias!
Segui
para o apartamento, porém, curiosamente, a mulher que não saiu da minha mente,
não era Carolina, que foi a peça principal da ocorrência, e sim a médica Juliana,
que, curiosamente, deixou-me encantado!
Passados
dois dias, recebo uma telefonema de Carolina, dizendo-me que estava sentindo
algumas dores estranhas, solicitando que, se possível, eu pedir a Dra. Juliana,
que era traumatologista, fazer uma visita, já que ela não gostaria de se
deslocar pelas dores. Pecaminosamente, fiquei até alegre com as dores de Carol,
pois, dessa maneira, eu teria outra oportunidade de encontrar a mulher que me
impressionou à primeira vista!
Mais
que depressa, me dirigi a clínica, falei do desejo de falar com a médica,
mandaram que aguardasse, porém, com poucos minutos, a maravilhosa Juliana
apareceu, cumprimentou-me, ao tempo de eu falava da necessidade de sua visita a
cliente, que ela atendeu dias atrás, explicando a dificuldade de levar a doente
em função das dores. Prontifiquei-me a leva-la e ela acatou, avisando na
recepção que iria fazer um atendimento externo, que avisasse ao seu pai. Aí foi
que soube que a clínica pertencia ao seu pai, também médico na mesma área!
Chegamos,
Juliana examinou cuidadosamente Carolina, dizendo que havia um pequeno trauma
na clavícula, fez uma imobilização no ombro com uma tipoia improvisada,
amenizando as dores, além de receitar algo para ser feitas massagens locais!
Voltamos,
conversamos pouco, mas, ousadamente a convidei para um jantar, como se fosse um
agradecimento pela sua gentil atenção a uma pessoa que ele acidentalmente
atropelara. Ela de pronto disse que agradecia, que era sua obrigação de médica,
etc. isso falou olhando diretamente em minha cara que, com certeza estava de
“cachorro lambido”. Fiquei triste, porém, como um milagre, na hora de saltar,
ela virou pra mim e disse: Sabe de uma coisa? Vou aceitar seu convite, pode
passar aqui mesmo as 20 horas, que virei aqui, ver algumas coisas e daqui
iremos.
Essa
mudança inesperada, deixou-me alegre, surpreso e feliz. Segui para minha
empresa de advocacia “Rommel Vasconcelos & Filho Ltda.”, fiz minhas
rotineiras obrigações, mas, não posso deixar de dizer que na minha cabeça, o
primordial era chegar a hora de voltar a me encontrar com a Juliana. Minha
expectativa e desejo era tanta, que toda vez que olhava o relógio, parecia que
ele estava lento demais para meu gosto.
Já
que sou divorciado, a noite me arrumei todo, coloquei meu perfume preferido
Kouros, uma roupa da moda, sentindo-me bem mais jovem, no sentido de
impressionar minha querida convidada. E aconteceu, pois, logo cheguei e ela
apareceu, elogiou minha elegância e disse que quase não me reconhecia, graças
ao meu novo visual!
Foi
uma noite interessantíssima, conversamos bastante sobre nossas viagens a Europa
e Estados Unidos, nossos gostos similares, casos divertidos do tempo de
universidades, tudo se desenrolando de uma maneira tão deliciosas e agradável,
que, sinceramente, criamos uma amizade e afinidade, percebendo ambos, que
tínhamos algo de especial nos unindo naquela noite, que nem em sexo pensamos ou
falamos, muito menos fizemos, já que essas saídas noturnas de casais, sempre
acabam numa cama. Essa nossa também acabou, porém, cada um em sua casa,
provavelmente, ambos encantados com o delicioso e proveitoso jantar!
Daí
pra frente, passamos a sair, logicamente começamos um gostoso namoro, nos
entrosei bem com sua família e, com certeza, creio que terminaremos nos casando
em breve. E como somos adultos e independentes, já combinamos ir ver as
Olimpíadas em Paris, já que amamos essa cidade, e somos admiradores fervorosos
de esportes!
Vejam
vocês como um pequeno acidente, completamente inesperado, pode mudar a nossa
vida, logicamente, para melhor ou pior. A minha, felizmente, foi para melhor!
Ah!
Ia me esquecendo de dizer, que Carolina ficou ótima, sem sequela, tornando-se
nossa grande amiga e considerada o nosso querido Cupido que nos deu a flechada
do amor!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia, Grapiúna
de Letras!
Nenhum comentário:
Postar um comentário