Antonio
Nunes de Souza*
Lembro-me
como se fosse hoje, minha origem e a família que desfrutei durante minha vida!
Minha
mãe “negra, pobre e prostituta”, pechas que deprimem e destroem a
sensibilidade, amor próprio e fomenta o desgosto. Pai nunca tive, pois, da maneira
que minha mãe vivia, sempre transando com os embarcadiços do porto de Santos e,
eventualmente, alguns marinheiros, dificilmente ficaria sabendo quem foi que a
engravidou. Soube depois que tentou abortar-me, mas, felizmente, não aconteceu
e estou aqui contando essa fase pobre de alguém marcada pela brutal sociedade!
Recordo-me
também com bastante clareza, as vezes que tive de dormir no corredor em uma
esteira, para que minha mãe recebesse homens, pois, assim fazendo, era que
conseguia pagar o aluguel e nossa tosca e pobre alimentação. Nosso casebre
tinha apenas um quarto, sala, corredor e banheiro. Ainda situada em uma rua
fétida e não calçada. Verdadeiras pobretonas periféricas.
E
assim fui crescendo, frequentando eventualmente a escola, nem sempre indo, pois
minha mãe pouco ligava e, normalmente, só acordava depois de meio dia. O tempo
passando, tornei-me uma mocinha e, como acontece, passei a ter necessidades de
coisas, como roupas, diversões, etc., chegando logo o meu despertar para também
entrar na linha sexual, uma vez que eu era bonitinha, nova e sempre era bem
olhada e desejada pelos homens frequentadores do meu humilde lar.
E
não deu outra, pois, numa noite apareceu um homem, já de meia idade procurando
por minha mãe e, com jeitinho começou a conversar e, intempestivamente, me
ofereceu uma grana para que eu ficasse com ele. Imaginem que eu tinha apenas
quinze anos, estando na flor da idade, uma menina pelas bases sociais daquela
época. Mas, olhei para minhas necessidades e, sem pensar muito e nem me fazer
de rogada, aceitei, começando assim a minha vida sexual
Daí
pra frente a coisa ficou estabelecida como uma maneira normal de proceder.
Minha mãe tinha sua clientela e eu, por ser mais jovem e bonitinha, procurava
selecionar um pouco e, obviamente, cobrar mais caro e exigir presentes.
Geralmente perfumes e produtos de maquiagem importados, vindo de contrabando
nos navios que aportavam.
Lamentavelmente,
foi criada uma “linhagem profissional”, fato que não é nenhuma anomalia no
mundo, principalmente em nosso país. Seguimos os nossos destinos determinados
por essa sociedade hipócrita e sem solidariedade, cheia de preconceitos podres
em todas as vertentes.
Infelizmente,
minha mãe faleceu há quatro meses em função de uma infecção generalizada. Estou
com vinte e dois anos e, tristemente: “Sou negra, pobre e prostituta!”
Com
tristeza, sigo uma “linhagem profissional” que, sem dúvida, não é orgulho para
ninguém!
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antonioamnteiga.blogtspot.com
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