sábado, 8 de agosto de 2015

Acontece na NET!

Acontece na NET!


Antonio Nunes de Souza*

Frederico, chamado carinhosamente por todos de Fredinho, tinha sua vida tranquila, fazendo mestrado, trabalhando, curtindo os prazeres da vida, sempre com comportamento exemplar, sem nunca fugir dos padrões normais. Poderíamos dizer que Fredinho era um exemplar raro para os dias de hoje, pois, com vinte e dois anos, já havia se formando em engenharia civil, com louvores e elogios dos seus mestres!

Um futuro invejável em termos de garantia de ser absorvido e bem remunerado pelo mercado, ávido por pessoas competentes e qualificadas. Dentre suas manias e raros vícios, um deles era de visitar salas de bate papos da NET, sempre pensando em fazer novas amigas, alguma paquera eventual, desde que fosse um pessoa qualificada, educada, bons conhecimentos, bom gosto, formação ou em andamento, mas, que tivesse além desses predicados, uma boa aparência, mesmo não sendo o primordial, porém, logicamente, ajuda bastante. E, com suas andanças virtuais, conheceu dezenas de mulheres, interessantes e não, até que um dia, casualmente, se bateu com uma moça inteligente, bom papo, expressando-se com desenvoltura, pouco explícita, cautelosa, mas, mesmo assim, demonstrando uma simpatia através do seu bom humor, sempre sorrindo com as bobagens que ele dizia. Esse era seu ponto top, em dizer coisas e jogos de palavras, pensando em provocar sorrisos e alegria as suas companhias e conquistas dentro da virtualidade! E, assim fazendo, ia conquistando amizade, curiosidade e, o mais importante, a confiabilidade. Ele e essa moça, teclaram por mais de uma hora, trocaram informações, sendo que ele foi mais explícito e, sem cerimônia ou mentiras, desnudou-se completamente, deixando clara toda sua vida, dando margem para que a moça, já fascinada pelo homem que estava conhecendo, deu seu celular e ele ligou, ficando mais de uma hora conversando como se fossem amigos de infância. Uma delícia e coisa rara nas salas, pois, lamentavelmente, estão cheias de tarados, idiotas grosseiros, gays, lésbicas e garotos e garotas de programa. Esses, infelizmente, pensam que a internet foi criada para ser um “fudistério” e encontros sexuais!

Voltando ao casual encontro de Fredinho com a moça, que até então ainda não tinha dado seu verdadeiro nome, porém, apenas seu apelido : Kau (A danada era cautelosa demais rs rs rs ), sempre com o pé atrás, comportamento este, que fez ele admirá-la mais ainda por sentir que estava lidando com alguém especial e precavida. Infelizmente, ela já estava com uma viajem numa excursão religiosa com a família, e passaria uma semana fora, ficando combinado que, assim que ela voltasse, no sábado, iriam a um sarau literário e, matariam a curiosidade de ambos se conhecerem pessoalmente. Muito embora, durante a semana, ele adicionou ela no Facebook, ambos viram suas fotos e perfil, ficando assim mais solidificada a nova amizade!

Chegou o sábado, Fredinho cheio de alegria e esperança, esperava a noite para ir apanhá-la em casa e, além de matar a curiosidade e os vislumbres do encontro presencial, a satisfação de ter uma noite agradável e cheia de alegrias. Combinado tudo como esperava que fosse, ficou de as 20:30 horas apanhá-la para uma inesquecível noite desta nova e afetiva amizade. Mas, por ironia do destino, as 20:15 horas parou em um semáforo, foi cercado por dois motociclistas encapuçados que, sacando de revólveres, tomaram seu carro de assalto e, como ele tentou não dar a carteira alegando seus documentos, recebeu dois tiros certeiros em sua cabeça, provocando sua instantânea morte, antes mesmo do SAMU chegar, chamado pelas pessoas que passavam. Kau ficou pronta a espera, ele não apareceu, não atendeu o celular, levado pelos criminosos e, enquanto ela decepcionada, chateada e triste se arrependia pela confiança que tinha dado a um estranho, Fredinho estava no mármore frio do departamento de necropsia da secretaria de segurança, cercado por familiares que, chorando, se maldiziam dessa ironia do destino!

Infelizmente, um afeto acontecido com “amor à primeira teclada”, não se concretizou, simplesmente pela animalização e selvageria dos homens na atualidade!

No dia seguinte, Kau vê na TV a notícia do assalto e a brutal morte de Fredinho por bandidos. Pelo seu rosto desceram lágrimas dos seus olhos, num sentimento de tristeza, e pelos perigos que estamos passivos nessa vida louca que vivemos!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com



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