Antonio Nunes de Souza*
Para
que você possa avaliar quanto tem de culpa nesses resultados tão cruéis,
torna-se importante ler, atentamente, esse fictício depoimento na delegacia de
polícia, que com algum esforço e tristeza farei abaixo, mostrando grandes
verdades existentes, os motivos, as culpabilidades, as persistências de
comportamentos, e o pior de tudo, os desastrosos resultados!
Durante
o relato, será usado um linguajar normal e natural usado na criminalidade e nas
favelas, inclusive com erros de concordâncias, palavras, abreviaturas, etc.,
sem também que sejam considerados nomes feios e chulos, mas, comumente e
corriqueiramente usados no dia a dia da marginalia!
Em
frente ao paciente Dr. José Antonio Pinto, delegado do Terceiro Distrito
Policial, estava o bandido e criminoso João Nilton da Silva, 16 anos, prestando
o seu depoimento para, posteriormente, ser entregue à justiça para as devidas
providências!
Assim
ele começou seu depoimento:
-Dotô
reconheço tudo que dissero de mim e não nego que roubei, matei e já cometi
outros crime desde meus 13 ano. Não tenho nenhum rependimento e se duvidar,
quando saí dessa, sou capaz de continuar da merma forma, roubano e apagano
gente, basta que seja priciso. Mermo com minha pouca idade, quem veve em favela
envelhece rápido, toma conhecimento das coisas muitas vez até apulso ou pela
necessidade, basta que ele sinta na carne e na pele o desprezo e nojo que a
sociedade tem por nois, tratano agente como bichos ou animais nojentos e
perigosos.
-Sou
filho de pai desconhecido, já criança via minha mãe transar com vários homens,
para conseguir o pirão dos 3 filho. Ela comprava dropes e chocolate batom pra
agente vender nos sinal e nas ruas, pra ajudar em casa, e o que eu sofria era
foda ver a grande maioria fechar o vridro em nossas cara, nos xingar, e seus
filhos no banco de traz com risadas de deboches darem adeus e fazendo careta.
Mostrano com isso as sua superioridades e nos desprezano como se estivesse ofendeno
eles, já que apenas agente queria ganhar uma merreca para ajudar nas despesa.
Na minha favela, como em muitas outras, a escola era uma merda, cheia de
goteiras, sem merenda, professores putos da vida por seus salários serem pouco
e sempre atrasados. Não tinha condições de comprar livros e cadernos, então
frequentar aula pra que? Era melhor fazer entrega de drogas para os traficantes
que nos tratava bem e a grana era certa. Resulvi voltar a ser honesto e fui
para os faróis com um litro de água e um limpador para lavar os para-brisas.
Foi pior ainda, pois não ganhava porra nenhuma e ainda éramos xingados de
filhos da puta e que se afastasse do carro. Então passei a ser sacana e me
vingava desses merdas colocando um prego, e quando ele acelerava ia levando um
bonito arranhão na pintura. Achando pouco, pelas ofensas e desprezos recebidos,
passei a usar uma garrafinha de mineral cheia de solução de bateria, que jogava
um pouco nos tetos e com o sol queimava a pintura. Uma vingança filho da puta,
mais essa raça de sacana mericia!
Fui
cresceno sem nenhuma portunidade, morano numa merda de um barraco de madera e
flandes, completado com papelão, dormindo 4 pessoa no mermo quarto. Sem
emprego, faltando tudo, as vezes apareciam uma porrada de madames dondocas, com
um fotografo de revista e TV, levando umas merdas de roupas velhas, apenas para
aparecer como notícia. Grande tropa de putas descaradas, achano que estavam
colaborano até mais do que podiam!
Dos
meus 15 anos em diante comecei a entrar no crime pesado, roubano, assaltano,
vendeno drogas nas portas de escolas para os riquinhos discarados, que tinham
tudo e se metia em vícios. Já devo ter matado várias pessoas, ou atirado apenas
por ódio e raiva desse tratamento podre que recebi, e o povo pobre continua
recebeno dessa sociedade falsa, e mais bandida que nois, que só cuida dos seus
interesse. Os pobres que vão para as putas que lhes pariu!
Não
atinano eles, que com esse comportamento escroto, estão a cada dia criano
pessoas iguais a mim, que eles cinicamente, chamam de monstros. Não percebeno
que somos apenas frutos do que eles plantam e continuam plantano e,
vergonhosamente, só fazem colocar a culpa nas costas do governo!
-Dou
risadas largas em ver esses sacanas trancados em casa, com medo de sair nas
ruas, se cagano de medo de morrer, e nois livres e fazeno tudo que eles merece,
e procedeno como os bichos que eles mesmo criaram. Enquanto esses filhos da
puta forem ruim, nós procura ser pior. Sei que a qualquer hora vou morrer, então
aproveito, ganho dinheiro e, imediatamente, gasto com bebidas, drogas e as
puta!
Com
minha idade, devo tirar três ou dois ano de cadeia e, certamente, voltar as
mermas façanhas, já que a podre sociedade e a política não muda em nada. Com
essa puta cegueira eles se fode e nois botamo pra foder também!
Terminado
o depoimento, o escrivão que fazia a lavratura, olhou para o delegado e deu por
encerrado, tirando duas cópias na impressora!
O
delegado chamou um policial e mandou que essa fera fosse posta na jaula,
sabendo ele, que milhares iguais estão circulando pelas ruas das cidades. Seria
bom que essa acomodada e idiota sociedade, lesse esse depoimento, passasse um
filme em suas memórias, e vissem quantas vezes se comportaram dessa forma
descrita por esse perigoso marginal, e “VEJA ATÉ ONDE VAI A SUA CULPA!”
“Quem
planta cactos, só pode colher espinhos!”
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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