Antonio Nunes de Souza*
-O senhor
teria direito a um advogado contratado para defendê-lo, ou seja, um defensor
público. Porém, preferiu fazer sua própria defesa. Quero alerta-lo, que seria
melhor se seu julgamento, contasse com alguém com maiores conhecimentos das
leis e melhores desenvolturas forenses. Falou o Juíza Lúcia Bonfim,
dirigindo-se ao réu, que se sentava a sua frente, acusado de atentado ao pudor
e estupro!
-Senhora Juíza, preferi
defender-me, pois, somente eu poderia externar para os senhores, a mais pura
verdade dos fatos, já que foram vivenciados por minha pessoa e, por mais
perspicaz que meu advogado fosse, jamais poderia expressar o fato da maneira
que realmente aconteceu!
-Então,
vamos ouvir a promotoria, que representa a sociedade dessa comarca, para fazer
a acusação. Com a palavra o promotor José Antonio dos Santos!
-Meritíssima
senhora Juíza Lúcia, senhores jurados, estamos diante de um homem que, num ato
insano e vil, invadiu a casa da sua vizinha em pleno dia, levou-a a força até o
quarto, manteve relações sexuais duas vezes com a vítima, depois saiu
calmamente de volta para sua casa, tomou um banho e, tranquilamente, foi dormir,
como se nada tivesse acontecido. A vítima, ficou totalmente atordoada com a
bestial atitude do seu vizinho, não reagindo em função da surpresa inesperada,
e do medo de uma reação violenta, pois, ele parecia uma fera no cio, e somente
depois de voltar a raciocinar melhor e tomar consciência do ocorrido, telefonou
para a polícia, solicitando socorro e a prisão do réu. Quando os policiais
chegaram, ela contou o fato com todos os detalhes do ato, apontando ao lado a
casa do seu terrível e tarado agressor moral e físico, que a estuprou, com
penetrações dolorosas e violentas!
-Os policiais
a orientaram para aguardar o SAMU para leva-la para fazer o corpo delito, e
formalizar a queixa, ao tempo em que se dirigiram a residência ao lado, para
prender esse homem, que representa uma ameaça brutal para a sociedade!
-Os
policiais tocaram a campainha e ele veio atender:
-Boa tarde!
-É o senhor Fernando
Caldeloso?
-Sim. Algum
problema?
-O senhor
está preso! Dizendo isso, os policiais foram logo pondo as algemas, colocando-o
na viatura e dirigindo-se imediatamente para a delegacia!
-Calma! Pelo
menos me digam qual é a acusação?
-Você ainda pergunta
seu bandido tarado! Você atacou e estuprou sua vizinha há duas horas!
-E esse
homem, cinicamente, durante todo trajeto, gritava que era inocente, inclusive,
chegando ao ponto de chorar copiosamente, mesmo depois de ser reconhecido pela
vítima, na acareação no distrito, na hora que estava sendo lavrado o boletim de
ocorrência!
-Como não
houve nenhuma testemunha, quero apenas que os senhores ouçam o depoimento da
pobre vítima que, mesmo tendo de passar por esse dissabor da publicidade do
fato, preferiu assim proceder, para que monstros como esse, seja trancafiado no
xadrez, fazendo-se justiça, para servir de exemplo!
Ouviu-se
aquele sussurro na plateia, provocando um certo barulho, fazendo com que a Juíza
Lúcia batesse o martelo solicitando silêncio!
Nisso a
Juíza convidou a vítima para fazer sua narração do crime e, para encurtar, ela
falou, literalmente, a mesma história que o promotor tinha relatado, isso entre
lágrimas e soluços, fazendo com que o corpo de jurados se olhassem, e com um
balançar de cabeça, demonstraram a repulsa ao hediondo acusado!
-Está com a
palavra a partir de agora, o filósofo Fernando Caldeloso, Falou a Juíza Lúcia
Bonfim, já demonstrando no rosto, o desprezo pelo réu, em função da sua
condenável atitude!
-Senhora
Juíza, prezados jurados e todos os presente nesse salão. Quero declarar para
todos que estou sendo acusado injustamente, de um ato que jamais eu poderia
cometer, digo até infelizmente, pois, para simplificar e acabar com essa farsa,
peço licença a corte, para chamar na plateia o Dr. Adalmir Pacheco de Farias,
que apresentará vasta documentação da minha inocência. A Juíza Lúcia, mesmo
sobressaltada com a surpresa, consentiu, juntamente com o promotor José Antonio
e, imediatamente, o doutor adentrou ao recinto privado, levando na mão um
grande envelope, abriu e mostrou uma radiografia, provando que o senhor Fernando
era eunuco, em função de um acidente de carro, acontecido há mais de 20 anos!
Foi uma
zoadeira tremenda, a juíza voltou a martelar fortemente, determinando respeito
e silêncio!
O promotor
contestou a testemunha de última hora, alegando inclusive, que tudo poderia ser
uma farsa para inocentar o réu e, de pronto, solicitou que a Juíza, juntamente
com ele, fossem até uma sala ao lado, para comprovar, “in loco”, a alegada castração
do réu!
Mediante o
impasse, meio titubeando, mas, para proceder imparcialmente, seguiram
imediatamente para um local privado, comprovando que o senhor Fernando era
capado totalmente, inclusive o saco escrotal!
Ao voltarem
ao recinto, o promotor pediu a absolvição do réu, a Juíza se prendendo para não
rir, Fernando Caldeloso todo escabreado, e a vítima tremendo de medo da merda
que tinha se metido!
A essa
altura a Juíza perguntou, qual a razão da vítima, ter inventado aquela história
absurda?
E ela, ainda
chorosa, disse: Eu sempre fui apaixonada por Fernando, desde que ele veio morar
em Itabuna, sempre dava algum mole, me insinuava, etc., mas ele nunca me ligou.
Então eu resolvi me vingar, inventei esse estupro, para, como castigo, ele ser
preso por ter me desprezado e esnobado. Agora eu entrei bem, vou responder
processo de difamação e falsa acusação, e estou sabendo o “por quê” desse
capado desgraçado, nunca ter ligado pra mim!
A juíza
encerrou o julgamento inocentando o suposto réu e, ao mesmo tempo, o promotor
entrou com uma queixa crime contra a mulher louca, que por um grande azar na
vida, se apaixonou pela pessoa errada!
O pobre
Fernando, envergonhado por todos da cidade passar a saber de seu segredo, foi
embora morar em Portugal!
*Escritor, Historiador,
Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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