Antonio
Nunes de Souza*
Embora
pareça de imediato ser um tremendo paradoxo, temos que reconhecer, que assim
como existem pessoas conscientes que são ladrões, existem também ladrões que
são conscientes! Claro que não é uma comum, mas, trata-se de uma situação
anômala, que aparece quando menos esperamos!
Vejam
vocês que saí num fim de tarde para ver o pôr do sol no Porto da Barra (que é
privilegiada essa visão) e, depois de desfrutar tamanha obra da natureza, feliz
da vida, me dirigi a uma pizzaria famosa para comer essa delícia da cozinha
italiana. Cheguei, embora o lugar estivesse cheio, consegui uma mesa bem
situada com uma visão ampla para todo ambiente e também ver a movimentação da
rua. Tudo estava como Deus quer e manda, nas ocasiões que Ele deseja agradar!
Pedi
minha favorita metade de quatro queijos e a outra parte de Margarita. Isso já
babando de felicidade, aproveitando o maitre e pedindo uma jarra do vinho da
casa, para ir saboreando enquanto esperava o pedido!
Tudo
estava tão perfeito, até que surgiram, não sei de onde, uns dez bandidos
(menores e maiores), com armas em punho, fazendo a maior varredura de
carteiras, bolsas, joias e celulares. Um ataque numa rapidez incrível, deixando
todos boquiabertos e entregando os seus pertences com dor no coração. Como a
minha mesa era uma das últimas, já na saída do terrível arrastão, cheguei para
o ladrão que Deus destinou para mim e disse: “Por favor, eu tenho 60 anos,
sofro do coração, meu celular é para avisar aos meus parentes em caso de
desmaios nas ruas ou em casa, sou aposentado por ser diabético e, para
completar, tenho a pressão alta!” Falei baixinho fazendo aquela cara de
cachorro sem dono e pedindo pelo amor de Deus!
Foi
aí que aconteceu o inesperado. Ele me olhou comovido, devolveu minha carteira
intacta, celular e relógio e, mais ainda, tirou de uma bolsa cem reais e disse
ao garçom; Esse dinheiro é para pagar a despesa de meu tio aqui (tio o
tratamento dado aos mais velhos).
Todos
ficaram estarrecidos com essa atitude e, logo que acabou o assalto, todos me
perguntaram: O que foi que o senhor disse para ele?
-Eu
disse o seguinte: Livre a minha cara, pois eu sou político!
-E
ele me respondeu: “Então você é colega tão ladrão quanto eu, e um bandido
graduado!”
-Aí
uma senhora esbaforida me perguntou: “O senhor é vereador ou deputado?”
-Não
sou nem um nem outro, apenas falei o que me veio a cabeça na hora!
Comi
minha pizza, tomei meu vinho, vendo a chegada dos policiais e, na saída, quis
pagar e o maitre, falou: Sua conta já foi paga, espere o troco!
-Não
meu amigo, fica como gorjeta!
-Voltei
para o carro sorrindo de ver que, sem esperar ou querer, me diverti com a
pegadinha, comi de graça e fiquei conhecendo um bandido consciencioso!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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