quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ladrão consciencioso!

Antonio Nunes de Souza*

Embora pareça de imediato ser um tremendo paradoxo, temos que reconhecer, que assim como existem pessoas conscientes que são ladrões, existem também ladrões que são conscientes! Claro que não é uma comum, mas, trata-se de uma situação anômala, que aparece quando menos esperamos!
Vejam vocês que saí num fim de tarde para ver o pôr do sol no Porto da Barra (que é privilegiada essa visão) e, depois de desfrutar tamanha obra da natureza, feliz da vida, me dirigi a uma pizzaria famosa para comer essa delícia da cozinha italiana. Cheguei, embora o lugar estivesse cheio, consegui uma mesa bem situada com uma visão ampla para todo ambiente e também ver a movimentação da rua. Tudo estava como Deus quer e manda, nas ocasiões que Ele deseja agradar!
Pedi minha favorita metade de quatro queijos e a outra parte de Margarita. Isso já babando de felicidade, aproveitando o maitre e pedindo uma jarra do vinho da casa, para ir saboreando enquanto esperava o pedido!

Tudo estava tão perfeito, até que surgiram, não sei de onde, uns dez bandidos (menores e maiores), com armas em punho, fazendo a maior varredura de carteiras, bolsas, joias e celulares. Um ataque numa rapidez incrível, deixando todos boquiabertos e entregando os seus pertences com dor no coração. Como a minha mesa era uma das últimas, já na saída do terrível arrastão, cheguei para o ladrão que Deus destinou para mim e disse: “Por favor, eu tenho 60 anos, sofro do coração, meu celular é para avisar aos meus parentes em caso de desmaios nas ruas ou em casa, sou aposentado por ser diabético e, para completar, tenho a pressão alta!” Falei baixinho fazendo aquela cara de cachorro sem dono e pedindo pelo amor de Deus!

Foi aí que aconteceu o inesperado. Ele me olhou comovido, devolveu minha carteira intacta, celular e relógio e, mais ainda, tirou de uma bolsa cem reais e disse ao garçom; Esse dinheiro é para pagar a despesa de meu tio aqui (tio o tratamento dado aos mais velhos).
Todos ficaram estarrecidos com essa atitude e, logo que acabou o assalto, todos me perguntaram: O que foi que o senhor disse para ele?
-Eu disse o seguinte: Livre a minha cara, pois eu sou político!
-E ele me respondeu: “Então você é colega tão ladrão quanto eu, e um bandido graduado!”
-Aí uma senhora esbaforida me perguntou: “O senhor é vereador ou deputado?”
-Não sou nem um nem outro, apenas falei o que me veio a cabeça na hora!
Comi minha pizza, tomei meu vinho, vendo a chegada dos policiais e, na saída, quis pagar e o maitre, falou: Sua conta já foi paga, espere o troco!
-Não meu amigo, fica como gorjeta!
-Voltei para o carro sorrindo de ver que, sem esperar ou querer, me diverti com a pegadinha, comi de graça e fiquei conhecendo um bandido consciencioso!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

Nenhum comentário: