Antonio
Nunes de Souza*
Para
que você possa avaliar quanto tem de culpa nesses resultados tão cruéis,
torna-se importante, ler, atentamente, esse fictício depoimento na delegacia de
polícia que, com algum esforço e tristeza, que farei abaixo, mostrando grandes
verdades existentes, os motivos, as culpabilidades, a persistência de
comportamentos, e o pior de tudo, os desastrosos resultados!
Durante
o relato, será usado um linguajar normal e natural usado na criminalidade e nas
favelas, inclusive com erros de concordâncias, palavras, abreviaturas, etc.,
sem também que sejam usados nomes considerados feios e chulos, mas, comumente e
corriqueiramente usados no dia-a-dia da marginalia!
Em
frente ao paciente dr. Antonio Carlos Santana, delegado do Terceiro Distrito Policial,
estava o bandido e criminoso José Nilton da Silva, 17 anos, prestando o seu
depoimento para, posteriormente, ser entregue a justiça para as devidas
providências!
-
Dotô reconheço tudo que dissero de mim e não nego que roubei, matei e já cometi
outros crime desde meus 14 ano. Não tenho nenhum rependimento e se duvidar,
quando saie dessa, sou capaz de continuar da merma forma, roubando e apagando
gente, basta que seja preciso. Mermo com minha pouca idade, quem vive em favela
envelhece rápido, toma conhecimento das coisas muitas vez até apulso ou pela
necessidade, basta que ele sinta na carne e na pele o desprezo e nojo que a
sociedade tem por nois, tratando agente como bichos ou animais nojentos e
perigosos.
Sou
filho de pai desconhecido, já criança via minha mãe transar com vários homens,
para conseguir o pirão dos 3 filhos. Ela comprava drops e chocolate batom para
agente vender nos sinais, para ajudar em casa, e o que eu sofria era ver a
grande maioria fechar o vidro em nossas cara, nos xingar, seus filhos no banco
de traz com risadas de deboches darem adeus. Mostrando com isso as suas
superioridades e nos desprezando como se estivéssemos ofendendo, já que apenas
agente queria ganhar uma merreca para ajudar nas despesa. Na minha favela, como
em muitas outras, a escola era uma merda, cheia de goteiras, sem merenda,
professores putos da vida por seus salários serem pouco e sempre atrasados. Não
tinha condições de comprar livros e cadernos, então frequentar aula pra que? Era
melhor fazer entrega de drogas para os traficantes que nos tratavam bem e a
grana era certa. Resolvi voltar a ser honesto e fui para os faróis com um litro
de água e um limpador para lavar os para-brisas! Foi pior ainda, pois não
ganhava porra nenhuma e ainda éramos xingados de filhos da puta e que se
afastasse do carro. Então passei a ser sacana e me vingava desses merdas
colocando um prego e quando ela acelerava ia levando um bonito arranhão na
pintura. Achando pouco, pelas ofensas e desprezos recebidos, passei a usar uma
garrafinha de mineral cheia de solução de bateria que jogava um pouco nos tetos
e com o sol queimava a pintura. Uma vingança filho da puta, mais essa raça de
sacanas merecia.
Fui
crescendo sem nenhuma oportunidade, morando numa merda de um barraco de madeira
e flandes, complementado com papelão, dormindo 4 pessoas no mesmo quartos. Sem
emprego, faltando tudo, as vezes apareciam uma porrada de madames dondocas com
um fotografo de revista e TV, levando umas merdas de roupas velhas, apenas para
aparecerem como notícias. Grande tropa de putas descaradas, achando que estavam
colaborando até mais do que podiam!
Dos
meus 16 anos em diante comecei a entrar no crime pesado, roubando, assaltando,
vendendo drogas nas portas de escolas para os riquinhos descarados que tinham
tudo e se metiam em vícios. Já devo ter matado várias pessoas ou atirado apenas
por ódio e raiva, desse tratamento podre que recebi e o povo pobre continua
recebendo dessa sociedade falsa e mais bandida que nois, que só cuida dos seus
interesses. Os pobres que vão para as putas que lhes pariu!
Não
atinando eles que, com esse comportamento escroto, estão a cada dia criando
pessoas iguais a mim, que eles, cinicamente, chamam de monstros. Não percebendo
que somos apenas frutos do que eles plantam e continuam plantando e,
vergonhosamente, só fazem colocar a culpa nas costas do governo!
Dou
risadas largas em ver esses sacanas trancados em casa, com medo de sair nas
ruas, se cagando de medo de morrerem e nois livres e fazendo tudo que eles
merecem e procedendo como os bichos que eles mesmo criaram. Enquanto esses
filhos da puta forrem ruins, nos procuraremos ser piores. Sei que a qualquer
hora vou morrer, então, aproveito, ganho
dinheiro e, imediatamente, gasto com bebidas e as putas.
Com
minha idade, devo tirar 3 ou dois anos de cadeia e, certamente, voltar as
mesmas façanhas, já que a podre sociedade e a política não muda em nada. Com
essa puta cegueira eles se fodem e nois botamos pra foder! “Quem planta cactos
tem que colher é espinhos!”
Terminado
o depoimento, o escrivão que fazia a lavratura, olhou para o delegado e deu por
encerrado, tirando duas cópias na impressora!
O
delegado chamou um policial e mandou que essa fera fosse posta na jaula,
sabendo ele, que milhares iguais estão circulando pelas ruas das cidades. Seria
bom que essa acomodada e idiota sociedade lessem esse depoimento, passassem um
filme em suas memórias e vissem quantas vezes se comportaram dessa forma
descrita pelo marginal, e sintam “ATÉ ONDE VAI A SUA CULPA”!
*Escritor
–m membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail,com
Nenhum comentário:
Postar um comentário