segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O folião baiano!


Antonio Nunes de Souza*

Pode parecer que ser um autêntico folião baiano seja algo simples, tranqüilo e normal, bastando apenas sair passeando nas ruas e avenidas, ouvindo as marchinhas inocentes do passado e, em dados momentos, lançando confetes e serpentinas nos blocos que passam, com suas divertidas charangas e abre alas!
Pois é “mermão”! Hoje para que você seja considerado um verdadeiro folião, tem que estar com uma série de molejos e malabarismos em dia, bastante ensaiados e compassados, demonstrando sua capacidade de entrosamento nas rodas momescas, sem aquela aparência abobalhada de turista estrangeiro completamente desengonçado, usando sandália e meias soquetes.
Em primeiro lugar você deve saber requebrar de tal forma com a bunda, que, se facilitar, pode até desparafusar o umbigo e o seu furico ir parar na batata da perna. Tremeliques com o tronco, indo para frente e para trás, enquanto os movimentos com os membros (os dois braços, as pernas e o outro), usando-os para abraços, pulos e esfregações constantes. Tudo isso fazendo “caras e bocas” provocantes e sedutoras, e com a boca preparada para receber milhões de beijos (femininos e masculinos) dos grupos já acostumados e treinados para se aproveitarem nessa festa libertária, boêmia e alegre!
Até aí, percebe-se que é necessário uma preparação abundante de costumes e hábitos que, para desfrutar tal evento, precisa que você se torne alguém especial e, logicamente, tenha alguma ou muita grana, para manter uma semana de comes e bebes, normalmente, com alguma companhia que aparecerá para completar os seus prazeres carnavalescos. Entretanto, se você depois de preparado com todos esses detalhes, ainda achar interessante sair em um ou dois blocos, tendo que comprar os “abadás”, o negócio encarece tanto que você tem que pendurar no cartão uma série de prestações para serem amarguradas durante o resto do ano.
Mas, tudo isso vale a pena e lhe trará boas lembranças no futuro, principalmente se você não for assaltado, não levarem o seu carro, não ter uma porrada no meio do bolo e você não receber uma garrafada ou um modesto tamborete e, principalmente, dar a sorte de escapar de uma bala perdida!
Desejo-lhe uma festa maravilhosa, sem momentos desagradáveis, a não ser ter que ouvir uma coletânea de músicas com letras ridículas e vazias que, nesse momento, são considerados até sucessos mundiais, comprovando que não é somente uma gama de brasileiros que não tem gostos apurados.

*Escritor (Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmail.com)

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