Antonio
Nunes de Souza*
Pode
parecer que ser um autêntico folião baiano seja algo simples, tranqüilo e
normal, bastando apenas sair passeando nas ruas e avenidas, ouvindo as
marchinhas inocentes do passado e, em dados momentos, lançando confetes e
serpentinas nos blocos que passam, com suas divertidas charangas e abre alas!
Pois
é “mermão”! Hoje para que você seja considerado um verdadeiro folião, tem que
estar com uma série de molejos e malabarismos em dia, bastante ensaiados e
compassados, demonstrando sua capacidade de entrosamento nas rodas momescas,
sem aquela aparência abobalhada de turista estrangeiro completamente
desengonçado, usando sandália e meias soquetes.
Em
primeiro lugar você deve saber requebrar de tal forma com a bunda, que, se
facilitar, pode até desparafusar o umbigo e o seu furico ir parar na batata da
perna. Tremeliques com o tronco, indo para frente e para trás, enquanto os
movimentos com os membros (os dois braços, as pernas e o outro), usando-os para
abraços, pulos e esfregações constantes. Tudo isso fazendo “caras e bocas”
provocantes e sedutoras, e com a boca preparada para receber milhões de beijos
(femininos e masculinos) dos grupos já acostumados e treinados para se
aproveitarem nessa festa libertária, boêmia e alegre!
Até
aí, percebe-se que é necessário uma preparação abundante de costumes e hábitos
que, para desfrutar tal evento, precisa que você se torne alguém especial e,
logicamente, tenha alguma ou muita grana, para manter uma semana de comes e
bebes, normalmente, com alguma companhia que aparecerá para completar os seus
prazeres carnavalescos. Entretanto, se você depois de preparado com todos esses
detalhes, ainda achar interessante sair em um ou dois blocos, tendo que comprar
os “abadás”, o negócio encarece tanto que você tem que pendurar no cartão uma
série de prestações para serem amarguradas durante o resto do ano.
Mas,
tudo isso vale a pena e lhe trará boas lembranças no futuro, principalmente se
você não for assaltado, não levarem o seu carro, não ter uma porrada no meio do
bolo e você não receber uma garrafada ou um modesto tamborete e,
principalmente, dar a sorte de escapar de uma bala perdida!
Desejo-lhe
uma festa maravilhosa, sem momentos desagradáveis, a não ser ter que ouvir uma
coletânea de músicas com letras ridículas e vazias que, nesse momento, são
considerados até sucessos mundiais, comprovando que não é somente uma gama de
brasileiros que não tem gostos apurados.
*Escritor
(Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmail.com)
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