quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Insanidade temporária!


                                        Antonio Nunes de Souza*

-Maria Luíza minha filha, não lhe conto a loucura que fiz!
-Meu Deus, você é louca mesmo. Primeiro porque está me dizendo que surtou de vez e segundo porque aguçou minha curiosidade e vem dizendo “não lhe conto o que fiz”. Vá logo desembuchando o que aconteceu antes que eu dê um troço!
-Não sei se lhe digo, mas tenho que confessar para alguém e sendo minha melhor amiga, talvez seja a pessoa mais indicada.
-Então começa logo e deixe de arrodeio  pois, de você, sinceramente, eu espero qualquer porra fora dos padrões, uma vez que sempre teve um parafuso a menos nessa cabeça. E não sou sozinha que pensa assim!
-Aconteceu o seguinte: Todos os dias quando vou e volto de casa para meu consultório dentário, passo por aquele cruzamento da Cinquentenário com a Adolfo Maron e, normalmente, tem um jovem que fica fazendo malabarismos e números de equilíbrios quando sinal fecha, no sentido de ganhar alguma grana dos inúmeros motoristas que trafegam. Eu, na minha pressa, pois estou sempre atrasada, nunca prestei maiores atenções e nem tão pouco dei alguma moeda. Mas, ultimamente, passei a olhá-lo mais diretamente e percebi que ele se desdobrava bem mais quando acontecia o meu carro parar em sua frente. Seus olhos azuis ficavam vidrados em mim, fazendo que ele errasse no seu circense número, deixando cair algumas bolinhas e malabares. Passei a observá-lo melhor e vi que se tratava de um argentino, louro, físico bem detalhado, ótima aparência e um sorriso bastante bonito. Lógico que, tudo isso, passou a mexer comigo e, sem pestanejar, passei a dar gorjetas generosas, responder os sorrisos e, logicamente, ir e voltar sempre no mesmo horário como se fosse um encontro marcado, chegando eu até fazer a volta e repetir o trajeto, quando conhecidia ele não estar lá. Sem me conter um dia lhe perguntei o seu nome e ele com seu bonito sotaque portenho me respondeu: Diego, Diego Rodriguez, senhorita linda! Eu, sem perda de tempo disse: Obrigado, e o meu é Maria Helena, mas me tratam como Leninha. Nisso o semáforo abriu, os carros afobados buzinando atrás de mim, segui meu caminho, com o pensamento voltado para Diego, já com vontade de voltar para o centro no sentido de vê-lo outra vez.
-Porra bicho você é louca mesmo! Não vá dizer que aconteceu alguma coisa entre vocês.
Pois aí é está à loucura ocorrida. Essa semana quando voltava no início da noite, algo se apoderou de mim enchendo-me de desejos, então eu encostei o carro e convidei-o para entrar. Ele nem pestanejou e foi entrando carregando seus apetrechos embaixo dos braços, sentando-se ao meu lado. Mesmo suado e com o aspecto de cansado, não deixou de me dar a maior tesão de agarrá-lo e beijá-lo imediatamente. Chegando em meu apartamento, sem muita conversa, peguei uma toalha limpa, e falei para que ele tomasse um banho gostoso que eu iria preparar algo para comermos. Ele apenas disse: Gracias bela mujer!
-Fui para minha suíte tomar também um banho e preparar com carinho e perfume aquilo que queria que ele comesse com bem gulodice e destreza! E não deu outra. Quando saí com um vestido transparente e ele, praticamente sem roupas, começamos a transar de uma maneira incrível, ele fazendo mil malabarismos com suas duas bolas, com seu malares em riste, provocando em mim sensações de gosos que parecia que eu estava naquele circo francês de tantas piruetas. Eu me sentia presa no seu mastro vigoroso e cheio de equilíbrios, quer seja por cima ou por baixo, parecendo que há muito tempo ele não tinha estado com outra mulher. Acabamos, saciados de vários orgasmos e pouca conversa, comemos algo que tinha na geladeira e ele foi embora se despedindo com um modesto beijo no rosto, mas, um lindo sorriso de felicidade!
-Tem uma semana que não vou trabalhar indo por esse velho caminho, evitando encontrar-me com ele, já que meu noivo está voltando de viagem e quero registrar isso como insanidade temporária!
-Fiquei boquiaberta, mas não posso jamais condená-la. Quando dá a tal tesão, não existe quem segure. Eu mesmo já transei com um entregador de pizza, mas, como não sou como Leninha, nunca contei nada para ninguém e guardarei esse segredo para meu túmulo! Depois que ela acabou de falar, só pude dizer: Leninha você é uma porra louca!

*Escritor (blog Vida louca – antoniomanteiga.blogspot.com –     antoniodaagral26@hotmail.com – Membro da Academia Grapiúna de Letras)

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