Antonio
Nunes de Souza*
Mediante
as grandes condenações e protestos contra os feminicídios, temos que ser
sinceros e honestos que, em certas circunstâncias, pode ocorrer uma fatalidade
dessa, talvez por grande mágoa, abalo exagerado da emoção, como também falta de
pulso para enfrentar uma dor profunda!
Vale
dizer que não estou referindo-me aos tarados, abusadores sexuais, maridos, ou
parceiros idiotas, que depois de separados, estupidamente, matam suas ex
esposas em função delas não os aceitarem de volta e, mais loucamente ainda,
muitos suicidam, talvez pela vergonha de ter cometido um grotesco e condenável
ato!
Esse
preâmbulo que fiz é para começar a contar a minha triste história:
Conheci
Marilene há uns cinco anos quando, eu ia a feira de largo fazer compras de
frutas. Ela, ainda um mocinha de dezesseis anos, quando não estava no colégio
ficava tomando conta da barraca do pai. Eu fazia minhas compras, escolhia
minhas preferências, e ela sempre me presenteava com um bonito sorriso. Eu tinha
vinte e sete anos, um jovem dentista já com uma boa clientela, meu apartamento
de três quartos era próprio, um carro do ano, além de uma excelente aparência!
O
fato é que depois desses contatos nas compras de frutas, terminamos começando
um namorico sem maiores compromissos, pois, apenas nos encontrávamos uma vez
por semana, no dia que era armada a feira do bairro. Sua família era pobre e
ela embora fosse bonita, não tinha roupas luxuosas, cabelos necessitando tratos,
podia-se perceber que ela tinha alguns dentes precisando de tratamentos, como
esta era minha área, logo percebi essa sua necessidade. E, logo que já
estávamos com certa intimidade, falei para ela ir ao meu consultório para eu
fazer uma revisão dentária. Ela aceitou de pronto, ficando um pouco escabreada!
Tratei
dos seus dentes, comunicamos aos seus pais que estávamos namorando e, como sou
um pouco apressado e já estava cansado de morar sozinho e fazer minhas
refeições na rua, com sete meses pedi a mão de Marilena, tudo foi bem aceito e
o casamento realizado. Tivemos uma lua de mel em Porto Seguro, com muito amor,
carícias e felicidades.
Quando
voltamos a minha preocupação era cuidar de Lene (como passei a chama-la), levei-a
um salão maravilhoso de uma amiga, mandando que fosse dado o maior trato na
minha querida, matriculei ela numa academia de ponta, para colocar seu corpo,
que já era bonito, mais lindo ainda.
Pedi
a uma outra amiga super elegante e era estilista, para ir com ela comprar
roupas modernas e da moda. Enfim, tratei de dar a ela o que nunca teve, não
apenas por que ela precisava, era mais pelo amor que dedicava a minha bonita
esposa, querendo que ela ficasse feliz e realizada. E ela reconhecia que eu era
um excelente e bom marido.
Tudo
era uma festa, nos divertíamos bastante, praias, passeios, viagens, danças,
shows, teatro, etc., Uma vida de um casal super feliz!
Para
comemorar o primeiro ano de casados, resolvi presenteá-la com uma viagem a
Europa, visitando Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha. Lene, mesmo
apenas ter feito o curso secundário, ficou fascinado com tudo. Adorando os
museus, as cidades históricas, as iguarias maravilhosas, comprou perfumes e
roupas em Paris e se deliciou com a Fonte dos desejos em Roma. Andávamos
abraçados e aos beijos como se ainda fôssemos um casal de namorados. Estávamos
esbanjando amor!
Compramos
presentes para toda família e alguns poucos amigos, e não deixamos de desfrutar
tudo que era possível!
Voltamos
depois de vinte dias maravilhosos e continuamos a nossa vida de casal feliz,
sendo que eu a estimulei para fazer vestibular e voltar a estudar numa
faculdade, preferencialmente, odontologia, pois, assim estaríamos os dois
trabalhando juntos!
Ela
achou a ideia legal e, mais que depressa, providenciou sua documentação, se
matriculou e, como eu esperava, passou de primeira. Fomos jantar fora para
comemorar, depois paramos numa danceteria e fomos dançar agarradinhos como no
tempo de namoro. Tudo como um sonho maravilhoso!
Eu
trabalhando, ela estudando e nossa vida continuava linda e feliz sem brigas,
desavenças, etc., era simplesmente uma verdadeira paz. Eu ajudei seus pais a
montar uma modesta loja de frutas, deixando de ser feirantes. Ficaram bastante
agradecidos mim!
Aí
aconteceu o inesperado. Já com três anos de casados, sempre com o mesmo amor,
um dia resolvi lhe fazer uma surpresa indo busca-la na faculdade e depois irmos
jantar fora. Mas, a maior surpresa foi a minha, pois, ao encostar o carro vi
Lene chegar no portão da faculdade abraçada com um rapaz e, aos beijos, abraços
apertados e carícias se despediram. O sangue me veio a cabeça, fiquei como um
louco depois de fazer por ela tudo que sonhava e necessitava, estava sendo
traído estupidamente.
Não
consegui me conter e, como sempre andei com uma arma no porta luvas. Peguei o
revólver, saí do carro e, sem pestanejar, dei seis tiros nela. Sem ação, pois
estava totalmente atordoado pela traição e pela minha atitude, que nem me
movimentei do lugar. Foi juntando gente, chamaram a polícia, o SAMU mas,
infelizmente, ela já estava morta. Eu fui preso em flagrante, fui julgado e
condenado a quatorze anos em regime fechado!
Nesse
momento que conto o meu caso, estou na prisão já há dois anos, apenas lhe
pergunto e quero que você me responda com sinceridade: O QUE VOCÊ FARIA?
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de
Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com