sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O CAPUCHINHO MISTERIOSO!

Antonio Nunes de Souza*

Pequena e antiga cidade do interior paulista, que me resguardo a dizer o nome, tinha e tem ainda uma pequena e centenária igreja que, construída pelos Franciscanos Jesuítas, até hoje ainda está de pé e bem conservada, graças a modesta, humilde e pobre população ultra religiosa!
O sacristão e responsável pelas coisas da igreja era um velhinho beirando os oitenta anos, que já fazia esse serviço desde menino e morava num quarto e sala improvisado e construído no fundo da sacristia exatamente para essa finalidade!

Mas, como não somos eternos, Túlio o sacristão, veio a falecer em função de uma doença hereditária. Muitos sentimentos das beatas, idosas, meias idades e muitas ainda jovens, que se incumbiram do enterro e suas preparações.
Foi um profunda tristeza, uma vez que Seu Túlio era quase considerado um ministro de Deus, pelas suas palavras meigas, afetivas e o tratamento todo especial devotado aos fiéis.
Porém, Frade Sebastião, para preencher a lacuna, convidou um sobrinho que era coroinha em sua terra e já conhecia as sistemáticas da religiosidades! Ele, rapaz ainda dos seus 23 anos, aceitou a proposta e, imediatamente, veio ocupar o lugar deixado por Túlio. Se instalou, foi apresentado na paróquia e todos ajudaram a arrumar a sua nova casa, pois ele solicitou que fossem retiradas as coisas pertencentes ao falecido. Talvez, uma superstição!

O fato é que, passado algum tempo, começaram a ver a luz de uma vela na igreja durante a noite e, pra completar a estranheza, um vulto de um capuchinho rondando os altares. Com um grande terço ia debulhando orações aos pés de cada santo da igreja, depois, apagava a vela e desaparecia. O estranho de tudo isso era que o Capuchinho usava uma carapuça de meia na cabeça, não deixando que fosse reconhecido ou conhecido por alguém. Tratava-se de um capuchinho misterioso, que as paroquianas logos trataram de dizer que era alguém, capaz de fazer milagres!
E assim sendo, as escondidas, as mais desejosas de saber das suas vidas, seus futuros, nada melhor que consultar o misterioso Capuchinho! Lógico que cada uma passou a ir em segredo, nas horas das aparições e, como verdadeiros baús, guardavam segredo do que se passava. Mas, mesmo assim, começaram a aparecer notícias de milagres acontecidos e as paroquianas passaram a programar visitações individuais e secretas das noites dos milagres, que o próprio Capuchinho Misterioso programou que deveria ser dia sim, dia não. Isso através de bilhete manuscrito!

O fato é que o capuchinho misterioso, antes de abençoar os desejos das crentes e fervorosas religiosas, as levava para detrás do altar mor e, com uma coberta estendida no chão, transava gostosamente em nome de Jesus, alegando que estava abrindo o corpo para a entrada do pedido sacrossanto! Como tratava-me de uma visagem santificada, todas aceitavam, tranquilamente, para que os efeitos fossem mais rápidos!
Mediante o Zum, zum, zum a notícia chegou aos ouvidos do Franciscano responsável pela paróquia e este resolveu, em segredo bisbilhotar ao vivo o que estava acontecendo. Fechou a igreja e ficou escondido atrás do altar de Santa Rita, que ficava quase junto ao altar mor! E, lá pelas tantas, aparece o Capuchinho Misterioso já abraçado com a próxima vítima. Ele, nas pontas dos pés, chegou por trás e arrancou a carapuça da cabeça do milagreiro e, assustado, viu que o safado causador de tudo era seu sobrinho o sacristão. Deu ainda dois tabefes bem dados e o cretino saiu correndo pelo fundo e nunca mais apareceu, nem na paróquia e nem tão pouco na cidade!
Foi um vexame danado e até hoje esse caso é contado entre risos, e vexames das que ficaram sabendo que foram “abençoadas” pelo falso milagreiro!

Que esse exemplo lhe ensine que para se obter milagres você tem que rezar muito, ter fé e fazer suas promessas diretamente a Deus! Tenha cuidado com as intermediações!!!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL- antoniodaagral26@hotmail.com-antonionteiga.blogspot.com



Nenhum comentário: