Antonio Nunes de Souza*
Há muitos e muitos anos, um homem ouviu falar que existia
um lugar chamado Terra da Felicidade, onde todos eram felizes e só havia
bondade. Ele, como vivia tendo e causando problemas com as pessoas que
convivia, resolveu abandonar tudo e partir em busca desta terra que, para ele,
representava todos os seus sonhos e anseios.
Madrugada,
sorrateiramente, preparou uma sacola com algumas roupas e alimentos para
consumir no caminho e, olhando para sua mulher e filhos que estavam dormindo,
desejou mentalmente que todos fossem felizes sem a sua presença e o perdoasse
pela inesperada atitude. Nas pontas dos pés para não acorda-los, saiu porta
fora para sua longa caminhada, não sabendo quanto tempo iria demorar.
Subiu
e desceu montanhas durante todo o dia, atravessou riachos e caminhos pantanosos
e nada de chegar ao seu desejado destino. Cansado e sem forças, resolveu
sentar-se na sombra de uma árvore para refazer suas energias. Porém, debilitado
pelo grande esforço, terminou adormecendo, só acordando na manhã seguinte,
quando alguém bateu em seu ombro, dizendo:
-Senhor,
bom dia! Estou viajando e parece que estou perdido. Gostaria que, com a bondade
de Deus, me orientasse qual o caminho para a Terra da Felicidade.
-Eu
não sei lhe informar, entretanto estou também indo para lá e, se quiseres,
poderemos seguir juntos e encontraremos esse bendito lugar.
O
viajante ficou satisfeito e seguiram os dois na longa caminhada, na esperança
que dentro em breve desfrutariam os encantos da sonhada terra.
Sem
demorar muito, uma mulher apareceu repentinamente, aproximou-se deles e falou
que o seu destino era o mesmo. E, sem pestanejar, uniu-se a eles e seguiram
juntos.
Isso
foi acontecendo repetidamente durante meses, sempre encontrando pelo caminho
pessoas insatisfeitas com a vida, procurando chegar ao mesmo destino.
Curiosamente, quando menos se esperava, já estava formada uma caravana imensa e
eclética, onde a preocupação maior era encontrar e viver na Terra da
Felicidade.
Quando
já haviam passados anos de caminhadas nos vales e montanhas, enfrentando o sol
e as chuvas, sem contar os frios das madrugadas e todos vivendo de pescas e
caças, e nada de aparecer à maravilhosa terra, resolveram de comum acordo,
parar e fazer uma grande assembleia para discutir o que deveria ser feito, já
que não encontravam o destino desejado. Então, o primeiro homem, que tinha
maior experiência de vida ou pensava que tinha, sugeriu para todos o seguinte:
Nosso grupo hoje conta com centenas de pessoas e todos estão procurando o mesmo
ideal. Portanto, Já que não conseguimos encontrar essa sonhada terra,
poderíamos acampar nesse lindo lugar e começarmos a fazer uma cidade feliz para
nós, já que temos o mesmo intento. O que vocês acham?
Todos
se entreolharam e, ao mesmo tempo, começou uma ruidosa salva de palmas
aplaudindo a grande idéia. Pois, já que todos ali buscavam a felicidade, claro
que essa nova cidade seria tudo que realmente eles desejavam.
Desfeita
a reunião, cada um foi escolhendo onde fazer as suas casas, demarcando os seus
terrenos e, com seis meses, já descortinava um vilarejo com características de
uma pequena vila constituída de algumas famílias, em função das uniões acontecidas
durante a longa jornada e a convivência.
Para
selar com chave de ouro, o lugar foi batizado com o nome de Nova Felicidade.
Mesmo com humildade, não faltaram os festejos para comemorar o batismo do
paraíso criado por eles. E, para que a felicidade fosse completa, combinou-se
que não haveria chefes, prefeitos, polícias, etc. e que todos os poderes seriam
iguais. Determinando-se que todos os assuntos e problemas seriam resolvidos
pelos próprios integrantes. Grande foi à aclamação e a alegria da festa foi até
o sol raiar.
Porém,
com o passar do tempo, começaram a surgir os problemas. Um invadia o terreno do
outro, alguém roubava frutas ou verduras do outro, apareceram traições
matrimoniais, brigas por futilidades e, bem antes que se esperava, a pequena
cidade passou a ser igualzinha as outras de onde eles tinham vindo. Com o
crescimento da população, os problemas foram se avolumando, deixando todos
tristes e preocupados.
Um
belo dia, aquele primeiro homem que havia iniciado sozinho a caminhada em busca
da Terra da Felicidade, ao acordar notou um grande silêncio. Chegando a porta
observou que não havia ninguém nas ruas. Assustado, correu até a casa mais
próxima e, ao entrar, viu um bilhete pregado na parede que dizia: Não era nada
disso que eu queria. Estou voltando para minha cidade.
Correu
para outras casas e outros bilhetes foram encontrados, mesmo com outras
palavras, os sentidos eram os mesmos. Já cansado e bastante aflito, entrou na
última casa e a mensagem era a seguinte: Hoje, graças a Deus, eu sei onde está
a felicidade!
Sozinho,
sentou-se e começou a refletir: É verdade, passei anos da minha vida caminhando
por caminhos tortuosos procurando essa utópica e imaginária felicidade plena e,
para encontrá-la, bastaria que eu tivesse sido menos egoísta, compreendido
melhor as pessoas, perdoasse as fraquezas humanas e não tivesse exigido tanto o
que elas não tinham a capacidade para dar.
No
dia seguinte, arrumou sua velha sacola, colocou alguns mantimentos e, olhando
para aquela deserta cidade, já caminhando de volta para sua antiga casa, disse:
A felicidade não está em nenhum lugar a não ser em nosso próprio coração. Nunca
busque fora o que está dentro de você!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna –
antoniodaagral26@hotmail.com
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