quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O dia em que Papai Noel chorou!


                                         Antonio Nunes de Souza*

Aproveitando o gancho do livro alusivo ao grande e irreverente filosofo Friederich Nietzsche (O dia que Nietzsche chorou), resolvi escrever um texto sobre fatos que devem ocorrer no andamento dessa vida louca e desigual que temos o desprazer de vivenciar, lutando pela sua melhoria, mas, tendo em nossa frente pedras humanas e políticas, que, lamentavelmente, não têm sentimentos coronários!
Ele, aposentado com seus sessenta e três anos, porém ainda com vitalidade e saúde para desempenhar uma atividade, inclusive para aumentar seus parcos rendimentos, viu no jornal uma nota procurando um senhor para fazer o papel de Papai Noel em um shopping, sendo a preferência aqueles que tivessem as qualificações e perfil do bom velhinho (Cabelos e barbas brancas, corpo avantajado e bastante educado na sua desenvoltura para atender os pais e as crianças). Sorriu ao ler o anúncio, se imaginando naquela função, já que, curiosamente, enquadrava-se completamente no papel e, inclusive, já era apelidado pelos velhos amigos com o nome do rei dos presentes!
Apresentou-se, fez uma entrevista, foi submetido a um rápido exame médico e, como esperava, foi logo contratado para ficar sentado num belíssimo trono no meio da decoração natalina, atendendo a grande clientela ávida de vê-lo, fotografá-lo e fazer os seus sonhados pedidos. Pela premente necessidade, ficou combinado que já começaria no dia seguinte, já ficando o resto do dia para providências relativas aos ajustes das roupas, maquiagem e outros pequenos detalhes. Não deixou de pensar que, para que não fosse sacaneado pelos amigos, nada falaria e, com certeza, não seria reconhecido depois da roupa vermelha, chapéu, alguns enchimentos corporais e o saco nas costas. Seriam três, cada um com o período de seis horas e ele escolheu das 12 as 18 horas, para preencher as suas tarde sem atrapalhar seu vício de noveleiro.
Dia seguinte, cedo se apresentou e a equipe responsável pela sua caracterização, com meia hora, estava ele parecendo que tinha acabado de chegar do Pólo Norte, faltando apenas o trenó e as renas. Foi levado para o seu lugar, sentou-se em uma larga e confortável poltrona, colocou o saco de pretensos presentes ao lado, ficando no aguardo da sua singela e maravilhosa clientela. Quase que imediatamente, começaram a despontar pais cheios de orgulhos direcionando seus curiosos filhos para o colo de Papai Noel, para que fossem fotografados e, obviamente, fazer os seus pedidos. Foram nesses momentos que ele, sensível, solidário e humano, começou a sofrer ouvindo de crianças pobres e sem condições, pedidos de computadores, bicicletas luxuosas, brinquedos elétricos e eletrônicos, bonecas que falam, cantam e se movimentam como seres vivos. Ninguém pedia roupas ou livros, não tinham consciência das condições financeiras dos seus pais, que deixavam transparecer em seus rostos, a impossibilidade de atender a grande maioria deles, já sofrendo por ter que ver a frustração de seus filhos no Natal!
Já fragilizado com o que se passava em sua mente, em função dos pedidos que ele sabia e sentia que não seriam atendidos, uma garotinha de uns seis anos, com uma aparência bastante pobre, chegou ao seu ouvido e disse: Papai Noel, em vez de você me dar presente, diga a Deus para cuidar da minha mãe que está muito doente. Não se esqueça, viu?
Foi nessa hora que Papai Noel chorou, abraçando a garotinha fortemente, sem poder conter as lágrimas que desciam em sua face. No fim do expediente, indignado e triste por comprovar a injusta distribuição de renda e a falta de solidariedade humana, mesmo no dia da maior festa da cristandade, pediu demissão!

*Escritor (Blog Vida Louca antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmailcom)

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