Antonio
Nunes de Souza*
Aproveitando o gancho do
livro alusivo ao grande e irreverente filosofo Friederich Nietzsche (O dia que
Nietzsche chorou), resolvi escrever um texto sobre fatos que devem ocorrer no
andamento dessa vida louca e desigual que temos o desprazer de vivenciar,
lutando pela sua melhoria, mas, tendo em nossa frente pedras humanas e
políticas, que, lamentavelmente, não têm sentimentos coronários!
Ele, aposentado com seus
sessenta e três anos, porém ainda com vitalidade e saúde para desempenhar uma
atividade, inclusive para aumentar seus parcos rendimentos, viu no jornal uma
nota procurando um senhor para fazer o papel de Papai Noel em um shopping,
sendo a preferência aqueles que tivessem as qualificações e perfil do bom
velhinho (Cabelos e barbas brancas, corpo avantajado e bastante educado na sua
desenvoltura para atender os pais e as crianças). Sorriu ao ler o anúncio, se
imaginando naquela função, já que, curiosamente, enquadrava-se completamente no
papel e, inclusive, já era apelidado pelos velhos amigos com o nome do rei dos
presentes!
Apresentou-se, fez uma
entrevista, foi submetido a um rápido exame médico e, como esperava, foi logo
contratado para ficar sentado num belíssimo trono no meio da decoração
natalina, atendendo a grande clientela ávida de vê-lo, fotografá-lo e fazer os
seus sonhados pedidos. Pela premente necessidade, ficou combinado que já
começaria no dia seguinte, já ficando o resto do dia para providências
relativas aos ajustes das roupas, maquiagem e outros pequenos detalhes. Não
deixou de pensar que, para que não fosse sacaneado pelos amigos, nada falaria
e, com certeza, não seria reconhecido depois da roupa vermelha, chapéu, alguns
enchimentos corporais e o saco nas costas. Seriam três, cada um com o período
de seis horas e ele escolheu das 12 as 18 horas, para preencher as suas tarde
sem atrapalhar seu vício de noveleiro.
Dia seguinte, cedo se
apresentou e a equipe responsável pela sua caracterização, com meia hora,
estava ele parecendo que tinha acabado de chegar do Pólo Norte, faltando apenas
o trenó e as renas. Foi levado para o seu lugar, sentou-se em uma larga e
confortável poltrona, colocou o saco de pretensos presentes ao lado, ficando no
aguardo da sua singela e maravilhosa clientela. Quase que imediatamente,
começaram a despontar pais cheios de orgulhos direcionando seus curiosos filhos
para o colo de Papai Noel, para que fossem fotografados e, obviamente, fazer os
seus pedidos. Foram nesses momentos que ele, sensível, solidário e humano,
começou a sofrer ouvindo de crianças pobres e sem condições, pedidos de
computadores, bicicletas luxuosas, brinquedos elétricos e eletrônicos, bonecas
que falam, cantam e se movimentam como seres vivos. Ninguém pedia roupas ou
livros, não tinham consciência das condições financeiras dos seus pais, que
deixavam transparecer em seus rostos, a impossibilidade de atender a grande
maioria deles, já sofrendo por ter que ver a frustração de seus filhos no
Natal!
Já fragilizado com o que se
passava em sua mente, em função dos pedidos que ele sabia e sentia que não
seriam atendidos, uma garotinha de uns seis anos, com uma aparência bastante
pobre, chegou ao seu ouvido e disse: Papai Noel, em vez de você me dar
presente, diga a Deus para cuidar da minha mãe que está muito doente. Não se
esqueça, viu?
Foi nessa hora que Papai Noel
chorou, abraçando a garotinha fortemente, sem poder conter as lágrimas que
desciam em sua face. No fim do expediente, indignado e triste por comprovar a
injusta distribuição de renda e a falta de solidariedade humana, mesmo no dia
da maior festa da cristandade, pediu demissão!
*Escritor (Blog Vida Louca
antoniomanteiga.blogspot.com – antoniodaagral26@hotmailcom)
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