quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A transformação do dia dos finados!

                                                Antonio Nunes de Souza*
Dia de finados, mesmo para os mais duros de coração, bate uma lembrança geral daqueles que tivemos oportunidade de conviver e o tempo achou por bem recolhe-los, em alguns casos, até bem antes das horas previstas.
Dei um mergulho nos anos cinqüenta (Pô! Tô velho pra cacete!) e comecei a rememorar aquele tempo que todas as emissoras de rádios saiam do ar, falava-se baixo em casa, havia horários para orações, missas e as sagradas visitas ao cemitério para levar umas flores e velas para enfeitar os túmulos dos nossos entes queridos.
O tempo foi decorrendo, as emissoras passaram a transmitir apenas músicas clássicas, inclusive a própria televisão que estava chegando ao Brasil e, respeitosamente, colocava uma imagem padrão fixa e um rosário de orquestrações lentas e saudosistas no decorrer do dia. Sinceramente, era um comportamento, além de religioso, uma demonstração de afeto e sentimento pelas faltas corporais em nossos convívios.
Rapaz, sem querer relatar todas as mudanças decorridas nesses anos subseqüentes, pois daria um romance, vou partir para a atualidade, onde não estão mais respeitando os vivos, quanto mais os mortos. Além de dizerem que: quem morreu foi quem se Fo...!, Ainda ficam P da vida quando o defunto só fez dar trabalho e não deixou herança nenhuma. E, para justificar seu próprio alívio, diz para os outros: Foi bom ele ter ido, pois estava sofrendo muito! Mas, no seu íntimo esta pensando: Que alívio retado!
Por mais que pareça que estou sendo cético, atroz e exagerado, tirando as raríssimas e honrosas exceções, essa é uma realidade vista nesse mundo moderno e cheio de praticidades, onde ouvimos, constantemente, quando damos os pêsames que: “ é isso mesmo, a vida continua”. No passado as viúvas se vestiam de preto por um ano e os viúvos usavam uma tarja preta na manga da camisa simbolizando a perda. Ao depararmos com alguém conhecido nessas condições, não era nem preciso perguntar pela saudade, pois as vestes já deixavam transparecer tais sentimentos.  Hoje, os jovens cônjuges já estão flertando em pleno velório e, se for bom partido, a disputa é grande, começando pelos advogados se candidatando aos inventários e, conseqüentemente, aos encantos!
Essa transformação radical na comemoração no dia de finados, oficializado como feriado nacional, não mais é justificado, uma vez que a maioria das pessoas aproveita para fazer festas e bebedeiras deixando os pobres mortos horrorizados em suas sepulturas. De roupa preta a única peça que eles adoram é a “calcinha preta” da banda, para se deleitarem até o raiar do dia, ainda dizendo sorridentes que compraram pacotes de velas, mas, os defuntos interessados que apareçam lá em casa para buscar!
Para finalizar o meu estarrecimento por essa radical mudança, fiquei sabendo ontem que o m2 no cemitério paulista está custando mais caro que no luxuoso bairro Morumbi, dificultando o pobre até morrer em paz, pois, além de nunca ter tido onde ficar em pé vivo, não tem como cair morto. Minha esperança é que o governo, que já é solidário em muitos casos, crie agora mais um programa popular: Minha cova, Minha morte!
*Escritor (Blog Vida louca – ansouza_ba@hotmail.com)

Nenhum comentário: