sábado, 19 de setembro de 2015

O Juiz sem juízo!

O Juiz sem juízo!


Antonio Nunes de Souza*

A cidade movimentadíssima, à frente do fórum haviam dezenas de ambulantes vendendo todos os tipos de iguarias e bebidas, atendendo as sedentas fomes dos curiosos que, aglomerados, esperavam o veredicto do crime da socialite mais bonita, charmosa, rica e safadinha da cidade!

Adriana tinha 33 anos de idade, três filhos, todos com características diferentes e, mesmo depois desses partos e amamentações, nada deixou de sequelas normais, geralmente acontecidas depois da maternidade. Continuava linda, tesuda, corpo provocante e aquele sorriso capaz de derrubar qualquer homem, por mais sério que fosse. Podemos dizer, sem estar exagerando, que a mulher era a imagem da tentação!

Seu marido, Augusto, conhecido na cidade pelo apelido carinhoso de Guto, pois, embora não sendo um homem letrado, é de uma generosidade fantástica, solidário em todas as ocasiões, além de ser caridoso e benevolente em todas suas atitudes. Muito trabalhador, chegando a ser um dos homens mais próspero do município, sendo dono do melhor super mercado da região! Enquanto ele vivia estritamente para o trabalho, sua mulher, preocupava-se apenas em ser uma dondoca, como uma mobília cativa nas colunas sociais.

Duas pessoas diferentes em comportamentos, porém formavam um bonito casal e ele não deixava que nada não fosse feito para atender seus caros e tolos desejos. Carros novos e de luxo, roupas das mais caras e somente com grifes famosas, viagem pela Europa e Estados Unidos e, eventualmente, umas esticadas pelo Japão. Guto, pela sua natureza simples e humilde, raríssimamente participou dessas caras tournées turísticas! Dedicava-se muito ao trabalho para poder manter esse padrão que sua bela mulher gostava de desfrutar!

E esse julgamento era do crime que abalou a cidade e toda sociedade, quando há alguns meses, Guto, num momento de desespero, frustração e ódio, deu seis tiros em Adriana, matando-a sem que houvesse tempo para assistência médica! E isso aconteceu no meio de uma festa, em sua casa, quando comemoravam dez ano de casados!

O juiz bateu o martelo na mesa, pediu silêncio e, como Guto havia pedido, ele mesmo faria a sua defesa, o meritíssimo autorizou que ele começasse:

Senhor Juiz, desculpe o meu linguajar pobre, mas, com certeza, serei bastante claro e sintetizarei o caso, relatando apenas a razão da minha intempestiva revolta e atitude criminosa: Estávamos todos reunidos na grande pérgola do jardim, centenas de convidados e, exatamente no momento de apagar as velas do bolo festivo, Adriana já meio bêbada, pegou o microfone e, sem a menor cerimônia, começou a dizer, o que quero que os senhores ouçam com atenção, pois tem uma centena de testemunhas do absurdo que ocorreu: Queridos convidados, tenho que fazer uma confissão para meu marido, pois, embora eu não o ame, ele, docemente, me proporciona uma vida maravilhosa, porém eu não tenho sido legal com ele, uma vez que, esses meus três filhos, nenhum é dele. O mais velho, moreno escuro, com características finas e cabelos lisos e negros é filho de um indiano que conheci e passei uma semana hospedada em sua casa. A menina, lourinha de olhos azuis, é uma lembrança que trouxe de Nova Yorque, graças a um entregador de Pizza que, diariamente eu chamava para comer a pizza e eu era a sobremesa. E o caçulinha é bem brasileiro, pois foi feito no Rio em uma das minhas deliciosas viagens.

Rolou o maior espanto de todos, achando até que era uma graça, mas, quando quiseram tomar o microfone das suas mãos, ela fez o maior escândalo e confirmou tudo, acrescentando que estava fazendo esse depoimento/testemunho em nome de Jesus, pois havia entrado para ser evangélica e, a partir daquela data, nunca mais trairia seu querido marido! Todos morriam de rir, olhando para Guto e espantados em ver e ouvir algo tão inusitado!

Senhor Juiz, o sangue me veio à cabeça, fiquei enlouquecido e não me restou, senão ir até o quarto, apanhar a arma e descarregar naquela desgraçada. Não em nome de Jesus, mas, em nome do Diabo!

O Juiz, mesmo já tendo lido todo processo, estava estarrecido pela coragem de Guto em confessar tudo perante aquela multidão que, pensou alto e falou no microfone que estava aberto: “Que mulher filha da Puta! Temos que absorver esse pobre homem!”! Todos caíram nas risadas, foi quando ele percebeu o vacilo que tinha dado, mas, aí já era tarde para consertar!” Bateu o martelo na mesa, deu um intervalo para os jurados se reunirem e apresentassem o veredicto, retirando-se para sua sala.

Minutos depois, volta o Juiz e os jurados, e aí ele levanta-se e lê a sentença: O Sr Augusto dos Santos está absorvido com sete votos a zero, podendo, imediatamente ser libertado. O povo bateu palmas e, carregando Guto nos ombros, atravessaram a rua e, atrás de uma coluna do fórum, se escondia o sacana do pastor que havia aconselhado Adriana a fazer tão absurda confissão!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL antoniodaagral26@hotmail.com





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