Antonio Nunes de Souza*
Há muito tempo, ainda na minha saída da puberdade
para adulto, um colega apontou para uma bonita garota que passava no outro lado
da rua e, quase cochichando, disse para mim: Aquela dali de vestido azul gosta
de mulher!
Ao acabar de falar, ficou olhando para mim com os
olhos esbugalhados, esperando minha reação. Mas, como ele não esperava, apenas
olhei para moça com meiguice, admiração e ainda com um sorriso nos lábios que
denotava estar diante de uma normalidade.
-Não é uma vergonha?
-Não acho não!
-Você está maluco, cara!
Essa
foi e ainda é a expressão idiota dos puritanos e falsos moralistas com relação
a esse fato. Mas, para mim, já conhecedor desse ser maravilhoso, encarava e
encaro tal preferência com a maior naturalidade, pois não conheci durante toda
minha longa vida, nada mais agradável e gostoso do que a mulher, mesmo com seus
efeitos colaterais trabalhosos, caros e possessivos. E, gostar de mulher, prova
que tal pessoa tem um ótimo gosto e sabe escolher o que é deveras bom.
Se você parar para pensar direito e com
imparcialidade, vai chegar a conclusão que o péssimo e de mal gosto é gostar de
homem! Eu por exemplo, não fosse as necessidades profissionais, os encontros
nos eventuais drinks para falar de mulher, extirparia da minha vida esse
segundo sexo (o primeiro é o feminino, claro!), não dando a ousadia de nem dar
um bom dia ou boa tarde. Boa noite muito pior!
Os homens, na sua grande maioria, em função da sua
criação machista milenar, têm a arrogância e o ar de superioridade estampados
na cara, provocando um comportamento nada humilde, desejando sempre que a
mulher, além de se submeter aos seus caprichos, seja uma empregada de luxo
(cama, mesa e banho), e muitos ainda querem pagar mal por esses serviços, não
proporcionando o conforto que elas, regiamente, merecem. Ainda têm a ousadia
de, estupidamente, classifica-las como seres inferiores.
Se eu pudesse, todas as vezes que encontrasse uma
mulher que gosta de mulher, daria um bouquet de rosas, um beijo na testa e
diria: Tô com você até a morte! Eu também adoro mulher!
Como eu posso ter desprezo por alguém que tem
gosto semelhante ao meu?
Fico abismado é que elas só tenham descoberto isso
ou colocado em prática com maior assiduidade ou dado o grande grito de
liberdade, do meado do século passado pra cá. Eu sei que esse negócio vem
rolando em surdina há séculos. Mas, com medo das represálias por parte de uma
sociedade falsa e tipicamente machista, somente depois da revolução dos anos
60, elas, corajosamente, resolveram encarar o problema de frente (de frente
sim, mas, problema nunca), chutando os pênis pra cima sem ter pena das dores
nos sacos.
Vocês podem estar espantados com o que estou
dizendo, mas, qualquer mulher que tenha um relacionamento íntimo com outra
mulher, sem que existam inibições, complexos de culpas e muito desejo, nunca
mais vai querer saber de homem fungando em seu cangote, tateando nos lugares
errados e ainda tendo suas ejaculações precoces, esquecendo-se de que a mulher
também merece sentir prazer. E pior! Ainda saem cantando de galo dizendo aos
amigos que são bons de cama.
Mulher nenhuma merece isso!
Vocês não sabem como me sinto bem quando vou a uma
festinha com uma amiga de igual preferência, que ao chegarmos, vislumbramos uma
série de gatinhas assanhadas e loucas pelo prazer. Cochicho logo: Nós hoje
vamos nos dar bem!
E, como resposta, vejo estampado em seu rosto um sorriso
maroto de cumplicidade. Aí, já sabe, tomamos o primeiro drink e vamos à luta
para conseguir a paz espiritual e corporal.
Quando saio nas baladas da vida, sempre
acompanhado com amiga de gosto similar, podemos nos ajudar mutuamente, pois
quando visualizamos alguém interessante e alimentamos um papo inicial para
chegarmos aos nossos objetivos, e percebemos que a mulher está em outra que não
é a nossa, um ou outro encaminha a vítima para o parceiro da preferência desta.
E é uma delícia esse processo de triagem e colaboração espontânea. Sempre nos
damos bem, pois não existe aquele ar competitivo existente quando você vai a
algum lugar acompanhado de outro homem. Ele quer logo comer todo mundo e deixar
você a ver navios, somente para provar que é o tal.
E ainda tem mais uma coisa bastante agradável que,
eventualmente, ocorre: Quando nem eu nem minha amiga não conseguimos nada nas
caçadas das baladas e os drinks nos sobem à cabeça, ainda a convenço de dar uma
comigo como se fosse uma penitência pela nossa falta de habilidades nas
conquistas. Aqui pra nós, de qualquer forma sempre me dou bem fazendo o papel
de genérica para ela.
Jamais temerei essa concorrência imaginando que
nunca mais terei mulher, pois sei que sempre existiram as burras que preferirão
os homens. E, como para uma boa transa a inteligência não é tão preponderante,
não tenho nenhuma queixa a fazer.
Muito bem mulheres sábias continuem gostando de
mulheres que eu, orgulhosamente, continuarei fazendo o mesmo.
*Escritor - Membro da
Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagral26@hotmail.com
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