A briga dos
blocos!
Antonio Nunes
de Souza*
O mundo
inteiro canta, dança e comenta com alegria a grande guinada e conquista dos
afro-descendentes, com o desfecho da vitória esmagadora de Barack Obama nas
eleições americanas.
Mesmo sem
cogitarem as possibilidades de alguns sérios problemas que possam surgir
através dos não satisfeitos, o povo na sua grande maioria, quer mesmo é ver o
mar pegar fogo para poder pescar o peixe já frito. Esqueceram que, mesmo por
debaixo dos panos, ainda existem Estados americanos que cultuam a Klux Klux Klan
e, certamente, estão nervosos, aflitos e inconformados com o absurdo de um
negro ser seu presidente. Isso, embora possa parecer novelesco, mas, num país
onde se mata sem nenhum motivo, disparando metralhadoras nas escolas e ruas,
não podemos deixa de raciocinar encima de tais hipóteses, como se fossem
utópicas.
Mas, para
que não achem que estamos querendo tirar o brilho da festa que está começando e
se radicalizando, vou me ater a falar sobre a possibilidade de uma séria briga
entre os Blocos Olodum e o Ilê Ayê, pois ambos, por serem os mais
representativos da raça negra na Bahia, já estão com os convites formalizados
para que Obama venha desfilar no carnaval, encima de um carro alegórico
especialmente projetado para tal fim, usando abadá e colares, complementado por
várias lindas negras dançando nas suas laterais.
Porém, como
já houve uma consulta telefônica através da embaixada, o nosso novo ídolo
mundial (já está até derrubando a popularidade do nosso querido Lula) avisou
que só poderá desfilar por um bloco apenas, e que entrassem em acordo para
escolher em qual será.
Aí o bicho
pegou! Vovó não se conforma que não seja no Ilê. Quer porque quer ver Obama na
Ladeira do Curuzú vendo a libertação dos pombos e participando da oferenda das
pipocas.
Por outro
lado, o presidente do Olodum alega que é o orgulho do Pelourinho, sediado no
centro histórico, lugar benzido pelo sangue dos escravos africanos e, pela
lógica, seu bloco é o que tem mais direito a tal honraria.
Em vista
disso a divergência foi formada e, prontamente, entraram em contato com o ex
ministro Gil, para na qualidade de negro, baiano e entender de carnaval como
poucos, dar sua abalizada opinião sobre tão polêmico e importante assunto para
a comunidade negra da Bahia, já que somos o país que tem mais negros no mundo
depois da África, sendo nosso Estado o de maior concentração.
E, o pior de
tudo é que o nosso cantante ex-ministro, com sua voz macia, tranquilamente,
falou: Para que não ocorram aborrecimentos, eu acho que ele deve desfilar é nos
Filhos de Gandi! Já pensou meu rei! Obama de turbante, com nossa linda
indumentária alvinha, será, literalmente, o preto no branco representando a
miscigenação das raças. E depois do desfile eu o levo para o Camarote 2222!
Rapaz, aí
foi que complicou! Pois, em vez de optar por um dos dois, o homem puxou a
sardinha para sua brasa, criando uma terceira hipótese que nem tinha sido
ventilada. Resolveram fazer que nem ouviram a observação, agradeceram e cada um
partiu para tomar suas providências na expectativa de conseguir alcançar seus
objetivos.
Para nós modestos
foliões, só nos restam esperar o carnaval e ver o resultado dessa disputa.
Antigamente seria dito: Isso é briga de branco! Mas hoje, com essa mudança
radical de prestígio de cor o popular adágio passou a ser: Isso é briga de
preto, mermão!
O mais que
posso fazer é deixar a pergunta no ar, para alguma empresa de telefonia fazer
até um concurso:
Em que bloco
de Carnaval Barack Obama vai desfilar?
Ilê Ayê?
Olodum? Ou Filhos de Gandi?
“Você faz a
ligação e se for contemplada(o) passará o dia encima do trio de Obama e a noite
embaixo de Tatau e Brawn!”
Escritor
–Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna –
antoniodaagral26@hotmail.com
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