Antonio Nunes de Souza*
Por ter convivido por mais de meio século nessa bendita terra, venho acompanhando de perto a evolução dos costumes, hábitos e comportamentos como bom observador, testemunhando, cotidianamente, as acomodações de conceitos e a extinção de preconceitos dentro da sociedade.
Em muitos casos as quebras de barreiras estão acontecendo em função da força da juventude feminina que, senhora dos seus direitos, mesmo com os desagrados familiares, impõem um comportamento jamais imaginado algumas décadas atrás, procurando um equilíbrio de direitos entre filhos e filhas.
Nos anos 50/60, em minha plena puberdade, tive o desprazer de ver uma colega minha do curso ginasial, com 16 anos, juntamente com a família, ter que mudar de cidade (Santo Amaro da Purificação), porque, num vacilo emocional, tinha mantido relações sexuais com o namorado. E, como não era um procedimento usual, ele muito idiota e querendo demonstrar ser o tal, saiu se vangloriando com os amigos que tinha “tirado Elizabeth de casa” (essa era a rotulação machista, uma vez que, a moça que fizesse tal absurdo, era taxativamente expulsa de casa pela família). Nesse caso, a família embora repudiando o fato, preferiu mudar de cidade pela vergonha e escândalo que a coitada, por alguns instantes de prazer, tinha proporcionado.
Mesmo naquela época e convivendo com esses dogmas da sociedade por demais hipócrita, fiquei pasmo e horrorizado por sentir de perto como eram encarados os direitos masculinos e femininos em plena era da modernização mundial.
Com os rapazes os pais facilitavam as coisas, levando-os ou pedindo aos amigos que fizessem (essa segunda opção era mais usual, pois muitos não se sentiam à vontade com os filhos para tais assuntos) e, quando sabiam que os filhos eram grandes namoradores e freqüentadores das casas de prostituição, enchiam o peito e diziam: Ah! Meu irmão, ali saiu ao pai! Frase dita seguida de uma risada, massageando calorosamente seus egoss.
Eu ficava sem entender, porque quando as filhas faziam a mesma coisa eles não estufavam o peito e falavam: Ah! Meu irmão, ali saiu a mãe!
Essa minha reação era porque sempre achei que os direitos devem ser iguais, já que somos seres semelhantes, apenas um com o sexo pra dentro e o outro para fora, além de algumas poucas outras características servidas para atender a maternidade. Mas, na mente e nos desejos, a igualdade é cientificamente comprovada. Portanto, seres iguais, direitos iguais!
Hoje, as mães já estão bem mais compreensivas e solidárias, pois foram sofredoras das repressões no passado, mas, os pais na sua grande maioria, aceitam tal fato com dor no coração e, muitos deles, preferem fazer que não sabem de nada para não se sentirem coniventes, pois ainda existe incrustado em suas mentes o ranço tolo do machismo.
Se você ainda é daqueles trogloditas que fazem verdadeiros escândalos de repressões e ameaças, procure logo tratar de mudar os seus conceitos e dedicar-se a dar bons aconselhamentos e orientações para evitar DST e filhos fora do tempo, pois as Elizabeth estão mandando ver. E, se as famílias delas tiverem que se mudar, nossa cidade vai ficar despovoada.
Com dois filhos homens e, em função disso, não pude sentir na pele o problema para ver se encararia com a naturalidade que estou dizendo se fosse um casal. Mas, creio que sim! Pois, quando eles levam as namoradas para dormir lá em casa, eu encaro com a maior tranqüilidade do mundo. O único sentimento que sinto e lamento é de muita inveja.
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)
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