segunda-feira, 18 de abril de 2011

O dia do índio!

                                  Antonio Nunes de Souza*
Como todos os anos, comemoram-se o “Dia do índio” fazendo-se alguns festejos nas poucas aldeias que ainda conseguiram sobreviver, apreciamos os nativos apresentando danças e alguns restantes costumes culturais, envergando suas belas indumentárias ornamentadas e cheias de penas proporcionando espetáculos cheios de purezas ainda existentes, geralmente, para a alegria e curiosidade dos ditos homens brancos que, sem penas nenhumas, com suas atitudes grotescas e desumanas, cada dia procura dizimá-los e tomar suas terras, sem nenhum respeito às leis e os direitos desse povo, originariamente, brasileiro.
Vergonhosamente, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, quinhentos anos atrás, que os índios sofrem barbaridades através de escravaturas e, aqueles que não se submetiam, eram aniquilados como verdadeiros animais, sem entenderem qual a razão de tais atitudes, já que eram pacíficos (embora desconfiados) e recebiam todos que aportavam como se fossem curiosos visitantes.
Passadas essas centenas de anos, com a introdução da miscigenação de raças (pretos, brancos, índios, amarelos, etc.), grande parte dos índios perderam suas características físicas, incorporaram hábitos e costumes das cidades e comunidades civilizadas (?), inclusive, através de uniões e constituições de novas famílias, muitos que nunca viram uma flecha, a não ser a do Cupido, pelas comodidades e algumas assistências governamentais, travestiram-se de filhos, netos ou bisnetos de antigos caciques, bastando para tanto uma pintura no rosto, colares e algumas peninhas na cabeça. Lamentavelmente, esses oportunistas são os mais criadores de casos e, se vacilarem na comunidade indígena que vivem, imediatamente se proclamam caciques para gozarem de determinados privilégios!
Já finalizando minha licenciatura de história, questionei em algumas aulas sobre esse assunto, pois, não concordo que os índios incorporem tudo de moderno da civilização (carro, ar condicionado, DVD, computador, celular, máquina de lavar, televisão, refrigerador, etc.) e, nas horas das reivindicações, reúnem-se em grupos e filas indianas balançando chocalhos rudimentares, emitindo cânticos em estranhas linguagens e pitando cachimbos de barro (quando, normalmente, fumam Carlton). Isso é uma contradição bastante paradoxal, pois, na hora que querem algo substancial (por direito ou não), apresentam-se como pobrezinhos sofredores. Mas, quando estão tranqüilos em suas comunidades, agem e querem usufruir de todas as mordomias vistas nas grandes cidades, esquecendo de suas culturas por eles mesmo acharem obsoletas. Já que o importante é a preservação cultural (costumes e hábitos), me pergunto sempre: Por que eles não continuam se comunicando com sinais de fumaça ou batidas de tambores em vez de celulares? Por que não continuam se deslocando com lindos vôos nos cipós da selva e preferem caminhonetes cabines duplas ou aviões?
Como diria um conhecido político nosso: é uma faca de três gumes!
Eu prefiro uma de dois gumes, mas, o ideal seria que todos se agregassem numa única sociedade, cada grupo étnico conservasse sua cultura (como o negro e outros já fazem), porém incorporados às leis e determinações que são regidas para todos, uma vez que, pelo andar da carruagem, não teremos nem um índio autêntico para, daqui a alguns anos, comemorarmos essa data.
Como na verdade essa situação é complexa e confusa, prefiro deixar aos cuidados dos sociólogos e indigenistas, guardar minhas opiniões para conversa de botequim e me amparar na canção de Rita Lee, que diz: “Todo dia é dia de índio!”
Parabenizo todos os índios pela passagem do seu dia, reconhecendo que, para eles, meu apito é surdo!

*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)

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