Antonio
Nunes de Souza*
Todos
nós, não sei se são sonhos de crianças, ou desejos que afloram em nossas vidas,
colocando vontades e aventuras estranhas na pauta de essencialidades nas realizações
pessoais. A minha, sem nenhum sentido, na época com 26 anos, no ano de 2.000,
com alguma independência graças ao meu modesto trabalho de soldador e uma
pequena fortuna herdada do meu pai, resolvi então realizar o meu sonho, que era
passar dois anos em uma tribo, preferencialmente no Xingu, morando, vivendo, cultivando
hábitos e costumes, religiosamente, dentro dos padrões tribais, para que,
quando retornasse, pudesse falar sobre essa fantástica experiência e, quem
sabe, mesmo sem ser bom de literatura, escrever um livro para marcar
eternamente essa minha aventura!
Aluguei
a minha casa mobiliada a uma família conhecida, deixei as coisas todas em ordem
e, mais que depressa, comprei uma passagem para Manaus, entrei em contato com a
FUNAI, pois já tinha obtido o sinal verde para tal experiência. Fui
excelentemente bem recebido, me apresentaram a um rapaz com características
indígenas que seria o meu guia, levando-me a aldeia e entregando-me ao Cacique
que seria responsável pela minha estadia durante a permanência dos dois anos
solicitados. Marcamos para ele me apanhar pela manhã no hotel, ele me deu uma
relação detalhada do que era essencial que levasse, nada que não estivesse
nessa lista deveria ser conduzido, principalmente, qualquer tipo de arma, mesmo
branca. Saí dali e fui direto para o comércio fazer as compras necessárias, voltei
para o hotel numa expectativa das maiores, pois, naquele momento, estava
realizando um grande sonho da minha vida. Mesmo tendo deixado minha querida
Marina (minha noiva) que, não concordando, acabou acatando minha obsessão e
determinação!
Saímos
bem cedo, pois distanciava uns cento e setenta quilômetros da cidade a tribo
que escolheram para me hospedar, já que solicitei uma com costumes bem
rudimentares e que não fosse já contaminada com os hábitos urbanos e
civilizados. Queria me sentir em plena selva, mesmo não sendo Tarzan. Chegamos,
fui recebido com danças e batuques, todos praticamente nus, o Cacique falava um
português arrastado, mas, compreensível, me ofereceu logo uma bebida preparada
por eles, o guia me deu sinal que aceitasse, e eu coloquei na boca a cuia de
cabaça e bebi de vez. Rapaz que coisa ruim desgraçada! Chegou a travar na
garganta, mas, como era uma espécie de drinque de boas-vindas, fui obrigado a
sorrir e fazer uma cara de felicidade. A essa altura o guia se despediu dizendo-me
que, qualquer coisa, eu poderia comunicar através do rádio da aldeia.
Me
levaram para uma cabana enorme onde moravam famílias, solteiros, solteiras,
crianças, etc., uma vez que não existia separações entre sexos, idades,
guerreiros ou velhos. Era, como percebi, uma comunidade sem preconceitos ou
discriminação. Ali se dormia, cozinhavam, comiam, tinham relações sexuais
abertamente, todos tendo suas liberdades sem controles patriarcais ou
matriarcais, nem se preocupavam com o que os outros estavam pensando sobre seus
comportamentos. Algo que estranhei bastante, em função de ter sido criado
dentro de uma sociedade cheia de pecados e condenações, camufladas com redomas
de hipocrisias!
Armei
a rede que havia comprado e depois de tomar um banho no rio que passava no
fundo, de calção segui para meu aconchego para dormir, já que escurecia e eles
não tinham hábito de ver TVs e nem tinham parabólicas. Quando já estava
cochilando, veio uma velha índia e, nua, deitou ao meu lado, olhando-me
sorrindo, e sem a mínima cautela, alisando o meu corpo em todas as partes,
talvez pela curiosidade, pois sou louro, olhos azuis e uma pele bem clara. Juro
que fiquei sem ação, mas, não pude me conter e, sem pestanejar, comi a índia
sem dó nem piedade, apenas lamentando não ter sida uma daquelas bem jovens que
tinha visto horas antes. Mas, para uma primeira noite, nada podia reclamar
enquanto não me entrosasse e dominasse os costumes tribais. Logicamente, minhas
intenções nunca foram de usar sexualmente a inocência indígena, aproveitando-me
da situação. Esse ato, seguramente, nunca fez parte das minhas prerrogativas.
Aconteceu apenas porque ela foi para minha rede e me excitou demais.
Nos
levantamos pela manhã, fui tomar outro banho e vi a minha companhia noturna com
mais cuidado, percebendo que não era um bagulho qualquer apesar da idade. Todos
sorriam para mim, ela no seu dialeto falavam com as outras índias algumas
coisas olhando para mim, todas sorriam simpáticas, me deixando tímido e
escabreado. Tomamos café com batata doce, beiju de tapioca e aipim assado na
brasa, claro que somente aos poucos eu estaria mais acostumado aos sabores,
alguns picantes e outros completamente sem graça. O cacique mandou me chamar e
fomos com um grupo que parecia, em princípio, que seria uma caçada. E era sim!
Fomos caçar porco do mato, uma espécie de javali que segundo eles tinha uma
carne bastante apetitosa. Eu ficava sempre na retaguarda, já que estava
desarmado, pois, ainda não tinha tomado as minhas aulas de arco, flechas,
lanças e zarabatana. Senti logo que não seria fácil encarar dois anos naquela
vida rudimentar, já que sempre fui tipicamente urbano. Mas, já que estava ali,
seja o que Deus quiser, uma vez que esse foi e era o meu desejo. Em alguns
minutos de silêncio profundo, ouvi uma gritaria enorme e vi qual a razão.
Haviam pegado e matado um enorme porco que, certamente, seria a alimentação de
uns dois ou três dias de toda aldeia. O cacique olhou para mim e disse que eu dei
sorte, pois havia algum tempo que não pegavam uma caça tão grande. Sorri e,
claro, me enchi de orgulho perante todos que gritavam alegres erguendo suas
lanças em minha direção, num gesto que percebia-se ser de aclamação!
Ao
chegarmos entre os gritos de alegria do restante da tribo, os homens foram logo
destrinchar o animal, entregando-o para as mulheres temperarem e levarem ao
fogo para uma refeição mais que merecida. Fui ao rio, limpo e transparente,
tomar mais um banho em função do calor e da caminhada na caçada. As crianças e
muitas índias adolescentes sempre estavam me seguindo, sorrindo e pegando em
meus cabelos, braços, pernas, etc., sempre com a curiosidade de saber domo eu
era sem o meu calção. Mas, eu ainda escabreado, não tirava, fazendo não
entender o que eles estavam querendo. Dentro d’água era uma agonia, pois eles e
elas mergulhavam e pegavam em meu sexo como se fosse uma brincadeira comum e,
pela minha malícia de civilizado (?) terminei me excitando dado aos meus 26
anos, idade onde nossa tesão está mais que competente, Procurei esconder essa
reação, mas, elas perceberam logo (as mocinhas lindas e quase mulheres) e, sem
nenhuma cerimônia, se esfregavam nas mais diversas posições, deixando espelhar
os seus mais ardentes desejos, sem que a pratica do sexo fosse algum pecado ou
coisa feia e condenável. Comecei a sentir que a nossa sociedade estava, nessa
área, muitos e muitos anos atrás, já que até os dias de hoje tratam o sexo como
algo impuro e que deve ser apenas para a procriação, não aproveitando-o como
algo que proporciona momentos deliciosos e é uma necessidade fisiológica normal
como comer, respirar, beber água, dormir, urinar, etc. Percebi que nessa
vertente, nós é que ainda éramos selvagens, tolos e hipócritas, não
aproveitando tal satisfação que é uma dádiva divina. Embora ninguém estava
preocupado em me olhar, ver minhas reações, procurei ser cauteloso e ir me
segurando, até me enturmar mais e saber como proceder sem sair dos trilhos
fazendo alguma bobagem condenável. Vesti uma bermuda, fui até a cabana
principal no centro da aldeia, ver de perto a preparação do enorme porco que
deveria pesar uns 300 quilos, sendo que uma parte já estava indo para um
defumador, outra sendo salgada, e outra parte, juntamente com as vísceras,
estavam no fogo em um panelaço, provavelmente o que serviria como um precioso
almoço comemorativo da nossa vitoriosa caçada! Sempre, em todos os momentos,
todos me olhavam com sorrisos bonitos e alegres, onde eu podia sentir a grande
satisfação da minha visita e a confiabilidade de estar morando com eles. Isso
me dava uma satisfação íntima e fazia com que eu gostasse de ver de perto a
pureza humana que, infelizmente, desconheci durante minha vivência de anos na
cidade.
Obedecendo
uma espécie de sino tocado pelas mulheres, os homens, principalmente os
considerados guerreiros, saíram de suas tendas e vieram para o centro, onde
várias gamelas estavam cheias de carne, outras com farinha e arroz e, sem a
necessidade de talheres, todos metiam suas mãos e levavam a boca a iguaria que,
ao que parecia, estava deliciosa. E estava mesmo, mesmo eu tendo certa
relutância em comer com as mãos, mas...tive que dançar conforme o ritmo e o
costume. Comi medianamente, porém, o satisfatório, deixando-me tranquilo para
conversar um pouco com o cacique que, prontificou-se a ficar as minhas ordens,
ensinando como proceder dentro da tribo, sem quebrar as regras de
comportamento. Já que ele estava aberto ao diálogo, fui logo no fato que estava
mais curioso com relação ao assédio das mulheres com relação ao sexo, sem a
maneira pecaminosa existente nas cidades. Ele prontamente me explicou que o
sexo era algo divino que deveria ser cultivado com liberdade e sem culpas,
pois, se fosse algo condenável, não seria criado pelos Deuses e nem tão pouco
seria um ato tão simples. A tola culpa não estava nunca no ato em si, somente
na cabeça dos tolos e maliciosos é que existia tal condenação e malícia.
Compreendi que era uma verdade, dando-me uma maior tranquilidade, quando
houvesse outras oportunidades que, por certo, aconteceriam. Ele disse-me, assim
como eu, as mulheres também poderiam se achegar em suas redes e dormir sem
precisar que aconteçam casamentos. Pois, depois que se casavam, suas mulheres
eram somente dos seus maridos e elas jamais teriam sexo com outros a não ser em
ocasiões especiais, atendendo uma solicitação do seu conjugue. Fiquei
tranquilo, feliz e já apto para enfrentar esse gostoso e salutar costume, sem a
timidez da minha noite anterior, pois a minha parceira da noite anterior nem
parecia que tinha tido algo comigo, a não ser o seu sorriso, mas, todos sorriam
para mim, com ou sem razões aparentes. Lógico imaginei que a noite alguém se
achegaria em minha rede e, maravilhosamente, o coro ia comer solto e com mais
desenvoltura. E não deu outra. A noite veio uma indiazinha com seus 18 a 19
anos, bonita, corpo lindo, peitinho arrebitados, pernas grossas e bundinha
empinada, deitou-se ao meu lado e, com os peculiares sorrisos, deixava
transparecer os seus ávidos desejos. Agradeci aos Deuses e, sem nem pestanejar,
começamos um vai e vem gostoso na rede, que parecia que eu não estava na selva
e sim no céu me glorificando! Depois de orgasmos continuados, relaxado e
sonolento pensei: Se continuar assim, nunca mais volto para a civilização cheia
de preconceitos e privações sem razões!
Pela
manhã a mesma rotina: banho no rio, café e se reunir com o cacique para ver o
que seria determinado como tarefas do dia. Minha parceira, mais que sorridente,
me olhava com uma insistência tão grande que, pelo intumescimento dos seus
peitinhos, percebia-se que ainda aflorava desejos naquele corpo. Não nego
também não, pois, sentia o mesmo! Como a caça foi excelente, ficaríamos alguns
dias na aldeia, fazendo outras coisas, já que os índios não costumam caçar,
pescar ou colher frutos que não sejam apenas para suas alimentações diárias,
sem a preocupação normal do homem da cidade que, na sua ganância, quer logo
matar todos os porcos, acabar com a fauna e a flora sem medir consequências
futuras. Essa diferença, infelizmente, é uma demonstração de uma bruta usura e
desejo de poderio pelo prazer do “ter”. Essa lição já me serviu de reflexão
para, na minha volta, viver melhor, ser mais feliz e deixar de lado as ambições
tão comuns entre as pessoas ditas civilizadas e superiores. Assim sendo,
comecei as minhas aulas de destrezas com arco, flechas, bordunas, tacapes,
lanças, armadilhas para caças, etc., uma série bastante longa de equipamentos
que faziam de um índio um completo guerreiro para enfrentar a selva sem medo de
ser feliz. Entrava pelo mato a dentro, mas, com um puto medo de cobras, que os
índios as olhava com indiferença e não se preocupavam se seriam picados. Apenas
evitavam ter contatos mais íntimos ou manual. Eu, juro que me cagava de medo!
Depois do longo dia de exercício e prática de destrezas, vibrava de felicidade
esperando quem viria aquela nova noite para deleitar minha rede e abastecer o
meu corpo e a minha alma. Era, sem dúvida nenhuma, uma sensação tão gloriosa
que, por Deus, fiquei pensando como deveria ter vindo a mais tempo conhecer a
vida desse povo sábio, inteligente, amável, humano, liberal e solidário!
O
tempo foi passando, fui apenas duas vezes a cidade durante os primeiros seis
meses que lá estava, apenas para comprar algumas coisas que precisava e,
aproveitando, trazia sempre algumas lembranças para todos, principalmente para
minhas queridas que, fogosamente, faziam as minhas noites se transformarem em
verdadeiros sonhos dentro da realidade. Aí, sem que eu esperasse, algumas das
minhas queridas amantes eventuais apareceram grávidas e, com muita alegria e
satisfação agradeciam com danças e manifestações a felicidade de estarem
esperando filhos que, provavelmente, segundo todos apontavam, seriam meus! E
não estavam enganados e nem elas, pois nasceram quase que em dias alternados
durante um mês, seis criancinhas com características indígenas, mas,
branquinhos e com olhos azuis amendoados ou cabelos louros e lisos. Rapaz, não
posso negar que tomei um puto susto, fiquei extasiado, mas, sinceramente, numa
felicidade brilhante ao ver minha inesperada prole. A cada um que nascia, a
tribo inteira fazia festas, eventos esportivos, me carregavam e me pintavam
todo, já considerando-me como um irmão e como se já fosse um índio, uma vez que
minha raiz estava implantada e representada pelos meus lindos e maravilhosos
filhos, que nasciam semanalmente como se fosse uma programação médica.
Àquela
altura já tinha subsídios bastante sobre a sobrevivência na selva, podendo até
voltar para a cidade com bastante conhecimento da vida tribal no Xingu, mas,
como voltar e deixar meus lindos pimpolhos longe de mim? Impossível seria
trazê-los comigo, pois não seria permitido e seria uma grande ingratidão com o
Cacique e, principalmente, com as mulheres que dedicam um amor incalculável aos
seus filhos. Então...depois de pensar e repensar, fazer centenas de reflexões,
juntar meus filhotes na minha rede e balançar para que eles dormissem, tomei a
decisão que ficaria por tempo indeterminado, passando a ter o cuidado de
escolher uma das mulheres para ser minha esposa, criar meus filhos e, com a
alegria de quem passou a entender os comportamentos e hábitos tribais,
desfrutar desse desfecho inesperado! Fui a cidade, liguei para um primo e
solicitei que falasse com meu advogado, que já tinha minha procuração, para
vender todos meus bens e mandar o numerário para Manaus. Quanto a Marina,
contei o ocorrido, pedi desculpas e perdão pelo ocorrido, desejando-lhe tudo de
bom e colocando-me as ordens! Simplesmente, foi um acidente de percurso
inesperado!
Hoje,
com 45 anos, meus queridos filhos, fortes e sadios estão com 18 anos e, com a
educação que lhes proporcionei, a implantação de uma escola na comunidade,
chegou a hora de manda-los para a universidade, mas, não só eles como eu,
fizemos um trato que, assim que se formassem, voltariam para servir ao “nosso”
povo, pois estaríamos todos de braços abertos esperando esse brilhante
regresso!
Toda
tribo em festa, tambores rufavam, danças nas suas roupas coloridas e a grande
maioria ainda quase nus, externavam suas alegrias de ver seus seis guerreiros
partirem para buscar conhecimentos em favor de seus ascendentes e familiares.
Eu
olhava com os olhos lacrimejando, mas, muito feliz, dando adeus a minha linda e
maravilhosa prole!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagral26@hotmail.com
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