Antonio Nunes de Souza*
Trabalhando num jornal,
responsável por reportagens investigativas, como não tinha nada de especial
naquele dia resolvi ir até a penitenciária do Estado, pedir licença ao diretor
e, aleatoriamente, escolher um dos reclusos para fazer um artigo ou crônica,
escrevendo sobre a sua vida, a razão da sua prisão, sua condenação, etc. enfim,
uma história que fosse esclarecedora para o público que, como consequência,
teriam maiores cuidados e se comportariam de uma maneira mais adequada dentro
da sociedade!
Esse meu trabalho, creio ser
muito mais importante e proveitoso, que o que faz a grande maioria assombrando
os ouvintes, telespectadores e leitores, apenas colocando fotos, manchetes,
focalizando apenas os atos grotescos e bárbaros, no sentido de ganharem
audiências, porém, inadvertidamente, elogiam as qualidades dos bandidos,
mostrando suas técnicas, fazendo com que sejam até admirados pelos idiotas e,
mais ainda, pelos seus colegas quando eles chegam ao presídio. Prefiro mostrar
os erros, solicitar depoimentos, fazer com que demonstrem arrependimentos,
pedirem desculpas a sociedade, revelarem o “por que” dos seus comportamentos,
etc.
Depois do assentimento do
diretor, dirigi-me a secretária e, numa rápida “clicagem” no PC, apareceu o
nome de André Nogueira, desconhecido na roda da malandragem, pois usava a
alcunha de “Andrezinho”, mas, segundo o delegado, tratava-se de um cidadão
perigoso pela sua capacidade de convencimentos e uma conversa bastante
envolvente. Jamais foi violento com suas vítimas!
Nos sentamos numa sala
fechada, lhe tiraram as algemas, pedi ao guarda que nos deixasse a sós para que
houvesse maior liberdade. E, imediatamente, fui atendido. Expliquei para ele a
minha intenção em revelar uma história real nos jornais e revistas, contada
pela própria pessoa que vivenciou.
-Tudo bem. Mas, como minha
vida é longa nessa área de assuntos condenados pelas leis, vou me ater apenas a
razão que agora estou cumprindo pena e o que aconteceu: Em frente a minha casa
morava um casal, cuja mulher era de uma beleza pecaminosa e tentadora, que ela,
sabendo disso, trocava de roupas com as janelas ou cortinas abertas, deixando
sempre que a vizinhança admirasse aquele corpão abençoado por Deus.
Então...como não sou de ferro, comecei a dar algumas “bandeiras”, sempre
distribuindo uns sorrisos nas suas passagens, fazendo a volta de carro passando
por sua garagem, até que um dia tomei coragem em função de um sorriso maroto
que ela me deu, parei o carro saltei, me apresentei e, prontamente, a convidei
para um chope e batermos um papo para que nos conhecêssemos melhor. E não é que
ela aceitou de estalo! Nos encontramos ao meio dia, tomamos chopes, conversamos
e foi mais fácil que eu pensava. Aí marcamos para aquela noite e ela me disse
que seu marido tinha viajado, então poderíamos ficar à vontade e,
concidentemente, minha mulher estava no Rio visitando seus país e só voltaria
em uma semana. Pensei comigo mesmo: Puta merda, acertei de primeira com essa
mulher deslumbrante, que não sabia que era tão receptiva! Aí ela me disse que
adorava umas fantasias nas suas noites eróticas e que naquela noite, gostaria
que eu levasse uma roupa de Papai Noel e um saco com brinquedos, que ela iria
se vestir de criancinha e seria bem divertido! Nos despedimos e eu fui correndo
comprar uma roupa de Papai Noel, um saco vermelho e, numa loja de 1,99 comprei
um bocado de bugigangas, deixando minha fantasia pronta para a noite
maravilhosa que me esperava!
Saí de casa já vestido com
meu disfarce, saco nas costas e, na hora combinada, saltei do carro rapidamente
e entrei para o hall da casa, tocando a campainha. Rapaz, quem veio me atender
foi o marido da desgraçada que havia chegado antes do previsto, e ela foi gritando
logo para livrar a sua cara: Esse vizinho sem vergonha, me ligou dizendo que
tinha uma surpresa para mim, mas, nem liguei. Agora ele aparece aqui vestido de
Papai Noel! O marido apanhou um revólver numa gaveta, apontou para mim, mandou
eu não falar nada e, sem pena, me deu um ponta pé no saco, não de brinquedos,
foi no meu mesmo. Juro que vi estrelas e passarinhos rodando em volta da
cabeça, meus ovos pareciam que iam sair pela boca e, antes de desmaiar, ainda
senti outro chute no mesmo lugar que fez eu me cagar e mijar ao mesmo tempo,
mesmo estando desacordado!
Resultado: O cara chamou a
polícia, alegou que eu quis violentar a sua mulher usando o disfarce natalino
e, com certeza, poderia até matá-la por saber quem era ele, ou, quem sabe,
roubar alguns objetos da casa! Quando acordei na CTI do hospital, meu saco
parecia uma bola de basquete, sentia dores da cabeça aos pés e, na minha frente
vi dois policiais e o delegado que me disse: Descarado você está preso, vai ser
indiciado por quatro crimes e vai ter vários anos atrás das grades para se
vestir de Papai Noel nos dias de Natal da penitenciária! Minha mulher me
abandonou, perdi meu emprego, gastei todo dinheiro da divisão da venda de minha
casa com advogados e, como não tinha testemunhas, a palavra do casal era o
forte da minha condenação. Estou aqui há três anos e daqui a mais dois deverei
conseguir liberdade condicional!
Por essa razão é que odeio
NATAL!
*Escritor – Membro da
Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagral26@hotmail.com
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