Antonio
Nunes de Souza*
Nossa memória sempre grava as coisas que nos deixam fascinados,
embevecidos, assim como, as que nos deixam extasiados e surpresos por ver fatos
incríveis e dignos de nos deixarem completamente hipnotizados com uma dessas
ações provocativas! Mais que justo, guardamos as lembranças que na época não
entendíamos as razões, hoje já com nossas mentes mais abertas e esclarecidas,
conseguimos assimilar e admitir algumas atitudes, mesmo ainda não sendo
completamente absolvidas e incorporadas aos hábitos e costumes.
Todos esses sentimentos e lembranças me foram causados pelo meu velho e
saudoso amigo Totonho Guimarães, que viveu intensamente seus 98 anos de idade,
fazendo as maiores peripécias tanto nas áreas comerciais, industriais,
políticas, sociais, e por que não dizer, nas respeitáveis vertentes religiosas!
Sujeito eclético nas suas desenvolturas, tendo a facilidade de num passe de
mágica, criar uma nova situação ou sanar de forma duvidosa e estranha, qualquer
das suas armações implantadas em seu único benefício. Ninguém conseguia
odiá-lo, pois era de uma simpatia e carisma tão grande que deixava todos
conformados aceitando, mesmo não concordando, as loucuras do velho Guimarães.
Sua mente era tão criativa e inventiva que seus métodos aplicados eram
por todos até admirados em função de como ele chegava às armações dos seus
planos. Eu, saindo da juventude, via e ouvia suas aventuras através dos mais
velhos e notava que, mesmo quando o condenavam, uma expressão de riso e
admiração se estampava nos lábios, demonstrando uma discreta admiração pela sua
coragem, engenhosidade e metodologia na arte de enganar! Podia-se,
tranquilamente, ser considerado um grande perito na arte da enganação. Alguns
chegavam a dizer que ele se utilizava de um tal “magnetismo” que deixava as
pessoas atordoadas e aí aplicava seus golpes sem que percebessem suas legítimas
intenções. Um novo e perigoso Rasputin que havia reencarnado em Guimarães. Teve
uma virtude, pois jamais usou de violência com quem quer que fosse. Um
verdadeiro gentleman!
Mesmo não querendo ser prolixo, se eu fosse enumerar ou expor exemplos
das suas malabarísticas aventuras, várias páginas seriam poucas, para citar
alguns fatos e suas conseqüências. Prefiro que vocês coloquem a imaginação para
funcionar e formatem em suas mentes uma figura extremamente inteligente,
engenhosa, agradável e enganadora em todos os sentidos. Quando morreu, seu
enterro foi um dos maiores acontecimentos, cujo cortejo fúnebre foi ultra
concorrido. Não sei se eram de admiradores ou de pessoas que ele havia enganado
de alguma forma que, cautelosamente, estavam ali para ver se o homem tinha
morrido mesmo ou se tratava de alguma nova trama espírita!
Hoje temos tantos Guimarães, que meu amigo não é esquecido por ter sido
um dos precursores!
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna –
antoniodaagral26@hotmail.com
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