Antonio
Nunes de Souza*
Sábado à noite, nada para fazer, meu amigo Jonathas
resolveu circular pela noite baiana, vendo os novos lugares das danças e
agitações, pois, no seu tempo de boêmio, os points eram a Boite Clock e o Anjo
Azul, ambientes semi familiares e o Tabaris, Monte Carlo e o Meia Três que eram
redutos da prostituição.
Pegou seu carro e seguiu pelas ruas da cidade
dirigindo com tranqüilidade, porém um pouco assustado com medo dos constantes
assaltos que ocorrem diariamente, principalmente com aqueles que estão
sozinhos.
Já havia antes dado uma olhada nos jornais e tinha
em mente os lugares apontados como os mais “irados” e indicados para quem
queria “bombar” uma noite de balada inesquecível.
Rodou passando pelas portas, observando a
freqüência em termos de quantidade e qualidade e, ao deparar com a “Funkeria
Gatos e Cachorras”, viu que estava saindo gente pelo ladrão, tanto dentro, como
nos passeios e estacionamento em volta.
-É aqui que eu vou baixar! Falou Jonathas Boca de
Ouro, apelido que ganhou no tempo de rapaz, pois foi um dos primeiros da nossa
turma a ter coragem de botar a boca naquele lugar cabeludo e meio salgado, que
naquele tempo havia certo preconceito. Vê-se logo que o cara era vanguardista,
apenas a idade tinha afastado ele dos modismos atuais.
Estacionou
seu carro, sendo logo recepcionado por um flanelinha que foi lhe chamando de
doutor, talvez pelos seus grisalhos cabelos. E, sem nenhuma timidez, foi
entrando no salão principal, onde parecia uma loucura para nenhum demônio botar
defeito. O som pocava solto vindo de um DJ muito doidão, que aos gritos e
manejo das mãos, fazia a zorra explodir nas caixas de som espalhadas pelo
salão, deixando o histerismo fluir largamente ajudado pela bebida e outros
produtos consumidos pela juventude.
Enquanto
andava para o balcão do bar, foi arrastado por um grupo de gatinhas super
assanhadas, vestidas de micro mini saias, bermudas curtíssimas ou calças que
deixavam a mostra os pelos pubianos e as regadas das bundas. Cenário para
deixar qualquer um assanhado e agradecer a bondade divina de estar bendito
entre as mulheres.
Mesmo
sem muito jeito, pois ninguém prestava atenção a ninguém, começou a rebolar no
meio da fila que se formava rodando o salão, com as meninas se esfregando mais
do que lavadeira em beira de rio. De frente, de lado, de fundo, colando os
peitos excitados e pontudos nas costas de Jonathas, que já estava com a barraca
armada para acampar em qualquer lugar que fosse preciso.
Na
sua cabeça ele pensava: Rapaz, se eu soubesse que era essa sacanagem
franciscana, jamais teria perdido centenas de noites lendo José Saramago, Luis
Borges, nem Ariano Suassuna. Puta merda! Quantas noites me dediquei a Gabriel
Garcia Marquez, Pablo Neruda e Fernando Pessoa! Fiquei ilustrado e perdi anos
de sacanagem. Mas, vou compensar essa merda a partir de hoje. Pô! Parece que
passei “Cem anos de solidão”!
Como
era de se esperar, se armou com uma gatinha linda, levou para seu apartamento e
transaram até o sol raiar. Quando acordou a menina já havia se mandado e ele
encontrou um bilhete sobre a mesa:
Gato,
Adorei
ficar com você! Foi beleza! Qualquer outro dia nos bateremos na noite.
Um
beijo,
Suzy
Outro
dia, passeando em Salvador encontrei-me com meu amigo Boca de Ouro e, como sei
que ele sempre foi chegado a boa literatura, perguntei:
-O
que você está lendo no momento?
E
ele de pronto me respondeu: Acabei de ler “A casa dos Budas ditosos” de João
Ubaldo e estou relendo com mais atenção o Kamasutra.
*Escritor (Blog Vida Louca
– ansouza_ba@hotmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário