Antonio
Nunes de Souza*
Descansando
numa rede em meu sítio em Parati, olhando a belezas e centenas de turistas,
comecei a recordar toda trajetória de minha vida que me fez chegar onde estou!
Nasci
em Campina grande na Paraíba, filha de pais lavradores, pobres e analfabetos,
mas, com esforços me deram de presente aos troncos e barrancos, a possibilidade
de estudar e terminar o segundo grau. Um curso precário da comunidade, porém,
eu gostava de ler muito e estudar, com dezesseis anos tinha conseguido concluir
com bastante conhecimentos graças aos meus esforços e dedicação!
E,
em função dos meus conhecimentos adquiridos, achei que deveria ir para um
cidade grande, onde pelos meus predicados, logo arranjaria um emprego e
entraria para a faculdade. Meus pais fizeram uma vaquinha com os amigos, me
deram uma quantia de dinheiro e, com a maior coragem, tomei um ónibus para o
Rio de Janeiro. Embora com um pouco de medo, estava indo contente e cheia de
esperanças. Chegando lá fui procurar uma pensão modesta que haviam me
recomendado, hospedei-me alugando quarto por um mês pra baratear o custo, tomei
um bom banho e fui me deitar para descansar da longa viagem!
Dia
seguinte, sem perda de tempo, segui pelas ruas e avenidas do comércio, com uma
porção de currículos, que já tinha levado por orientação de pessoas da
comunidade. Batia pernas todos os dias, sempre andando para economizar, mas,
passou o mês e ninguém me chamou para entrevista. Fiquei apavorada, pois minha
grana que havia trazido estava acabando e eu não queria vtar com a cara de
“banjo” demonstrando insucesso!
Foi
aí que começou minha nova vida, passando a aceitar as cantadas constantes na
rua e nas empresas, e sem nenhuma vergonha, comecei a me prostituir em função
das necessidades e da sobrevivência! No começo era duro ter que transar com
indivíduos estranhos, muitos mal educados e nos tratavam como, simplesmente,
“putas”. Na verdade eu era, mas não queria admitir.
Isso
me rendia uma boa verba semanal que, quando passei a fazer as contas, vi que
além de pagar todas minhas despesas, sobrava uma boa fatia que eu podia
economizar! Sinceramente, dei um sorriso e disse para mim mesma: “É preferível
ser uma prostituta e sobreviver bem, que querer ser toda certinha e morrer na
merda!” Esse foi o destino que Deus me deu.
Passei
então ser mais seletiva, somente transar com homens de meia idade, ou acima,
pois, nessa vertente, eles são mais generosos, nos respeitam e sempre nos ajudam
pagando melhor.
Aluguel
um apartamento pequeno, que me dava condições de atender minha seleta clientela
e, sem nem pensar duas vezes, passei a economizar bastante e pagar o
recolhimento de INPS, seguindo conselho de um financista, meu já cliente mais
assíduo.
Quando
completei vinte anos, me assustei, pois minhas economias já davam para eu
comprar um apartamento de dois quartos no interior. E cheia de alegrias,
seguindo o conselho de um especialista imobiliário, fui a Parati, escolhi e
comprei a minha primeira propriedade. Sinceramente, chorei de felicidade quando
assinei a escritura e registro. Tratava-se de uma grande vitória, mesmo sendo
de uma maneira condenável pela sociedade. Passei uma semana em Parati e, com
muita sorte, consegui alugar o apartamento por um preço razoável e voltei para
o rio, já preocupada, com medo de perder minha freguesia.
Habituada
com meus comportamentos, tudo parecia super normal para mim. Tinha meus
cuidados com a saúde e a beleza estética que são bons chamarizes, partia
diariamente para shoppings nos horário de almoço, pois era um bom lugar para eu
fazer minhas caçadas e eles pensarem que são bons “caçadores” e conseguiram uma
boa e jovem mulher! Nesse acontecimento, juntava a fome com a vontade de comer!
Rs rs rs. Eles satisfaziam seus desejos e eu as minhas necessidades. Uma troca
justa que ambos saiam sempre ganhando.
Pra
encurtar a conversa, que passará a ser repetitiva, comprei um sítio em Parati,
onde estou nesse momento, com minha empregada (já uma amiga) que trabalha
comigo há dezenas de anos, estou aposentada recebendo o máximo permitido pela
lei, o aluguel do meu apartamento que comprei anos atrás, vivendo uma vida feliz,
tranquila e, a última vez que fui a Campina Grande foi na morte dos meus pais,
isso há doze anos. Morreram alegres e felizes, pensando que eu era uma
professora bem sucedida.
Estou
com sessenta e três anos, tranquila, cheia de vida, não me casei, mas recebi
várias propostas para ser amante exclusiva, ou até esposa, porém meu ideal era
vencer na vida sem que homem nenhum mandasse em mim!
Tenho
convicção que sou uma das exceções, pois, normalmente, muitas se metem com
bandidos, drogas, DSTs e terminam na miséria!
Não
se deve tomar como exemplo essa vida pregressa de Carmem Lúcia Oliveira! Esse é
o meu nome verdadeiro, mas trabalhei (a vida inteira com o nome de Janete).
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de
Letras-AGRAL-aantoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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