Antonio
Nunes de Souza*
Sabedor
dessa monstruosa liquidação com uma antecedência respeitável, comecei a mealhar
minhas finanças, economizar bastante, pois, esse ano, iria comprar muitas
coisas para renovar e recompor minha casa, que há muito pedia algumas coisas
novas e outras que nunca existiram, no sentido de me proporcionar um conforto
mínimo, mas, bastante decente para um homem de pequenas posses!
Imaginando
o tumulto que seria na manhã quando abrissem as lojas, precavidamente, peguei
uma esteira na noite de quinta-feira, e fui me instalar como o primeiro da
fila. O pacotão de dinheiro em um bolso, fechado com um zíper e no outro bolso
uma grande relação com as mercadorias que desejava, preços normais antes da
promoção em várias casas comerciais, para que pudesse fazer os comparativos dos
descontos, pois, claro que não me deixaria cair em armadilhas comuns nessas
ocasiões.
Uma
garoa sacana, juntamente com o sereno e a friagem da noite, nada fazia com que
me sentisse confortável, assim como, àquela altura da madrugada a fila já
estava grande, cheia de ávidos compradores que aproveitariam a oportunidade. E
foi nessa hora que aconteceu o que jamais esperávamos: Apareceu um arrastão com
mais de cinquenta menores e maiores, armados de facas e revólveres e, sem a
mínima compaixão, saíram arrecadando os dinheiros de todos, celulares,
relógios, joias e fantasias, nos deixando deitados com as mãos nas costas,
enquanto faziam a limpeza geral nos pobres coitados que, com alegria estavam
imaginando uma sexta-feira cheia de felicidades!
Depois
que saíram em disparada, usando carros de apoio e motos, levantaram todos numa
algazarra ensurdecedora, procurando de alguma maneira ligar para a polícia.
Ainda estarrecido e sem ação, levantei-me, senti que desciam algumas lágrimas
pelo meu rosto e, querendo esquecer aquela tragédia, apanhei a minha esteira e
segui para casa no maior silêncio, sentindo dores no coração e tristeza na
alma. Nem me deu vontade de ir dar queixa na polícia, pois, a crueldade do fato,
apenas me mostrou, mais uma vez, como os homens estão a cada dia se
animalizando.
Me
deitei para descansar e, olhando meus móveis, geladeira, fogão e outras peças
que seriam repostas pelas suas velhices, e agradeci fervorosamente a Deus por
não ter sido morto pelo bando de selvagens que nos assaltou!
De
qualquer forma, esse fato para mim e todos aqueles que foram vítimas, não
deixou de ser uma “Sexta-feira Negra”, que jamais esqueceremos!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letra de Itabuna –
antoniodaagral26@hotmail.com