Antonio Nunes de
Souza*
Morador
novo é sempre normal estar observando a vizinhança, para melhor se situar com
relação aos novos relacionamentos que por certo virão no decorrer do tempo.
Quando tempo me sobra, fico na janela olhando a passagem dos carros e das
pessoas, pois estou morando em um condomínio fechado, com mais de uma dezena de
edifícios, onde residem mais de mil pessoas. Na verdade uma micro cidade, sendo
que, super organizada, limpa, silenciosa, áreas verdes e recheada de pessoas
que trabalham, estudam, etc. Posso dizer que é um lugar especial,
principalmente por ter morado no centro dezenas de anos e ter enfrentado os
barulhos e movimentos de trânsito comum nos centros urbanos. Sem contar a zoada
atroz dos carros de propagandas e as motos que, infelizmente, viraram o transporte
para tudo e para todos. Posso tranquilamente, dizer que encontrei meu paraíso
terrestre, bem merecidamente, pelos anos que atravessei nas loucuras das
cidades grandes.
Logo
que cheguei comecei a olhar a minha vizinha que, diariamente, logo cedo começa
a passear pelas ruas, normalmente com uma amiga quase que inseparável, as duas
sempre cochichando e brincando, sendo que uma eu já descobri o nome e ela se
chama Mileide, que é uma corruptela inglesa da expressão My Lady (que significa
senhorita). Toda garbosa, diariamente com laços de fitas cor de rosa enfeitando
sua cabeça, sempre se aproxima das pessoas que passam, mas, com toda pompa não
dá bola para ninguém, dedicando a sua amizade a sua companheira diária de
aventuras e brincadeiras. Creio que são confidentes em seus segredos, pois
normalmente estão cochichando uma no ouvido da outra.
Algumas
vezes, parece que a família a prende em casa e eu observo que ela fica na
janela através da vidraça, vendo o movimento da rua, mesmo estando no primeiro
andar. Prendo o olhar nela, mas, sempre me olha com insignificância não me
dando nenhuma bola.
Já
estou tão acostumado com ela que, quando chego à janela e não a vejo, fico
preocupado e saudoso, pensando se algo lhe aconteceu. Minha preocupação maior é
que parece que estou apaixonado pela minha vizinha, que é uma bonita cadela
Poodle, charmosa e interessante.
Parece
um absurdo essa paixão, mas, muitas vezes é preferível amar uma cachorra
mulher, que uma mulher cachorra!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – antoniodaagral26@hotmail.com – Blog: antoniomanteiga.blogspot.com
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