terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O espermatozoide Especial!


                                        Antonio Nunes de Souza*

Todos os seres vivos merecem, quando são diferenciados, serem perpetuados na história, tornando-se lembranças afetivas e efetivas de vidas especiais e dignas de serem relembradas com carinho, já que em muitas ocasiões (como essa) não comportaria um monumento feito e projetado pelo grande escultor grapiúna Lavrud Durval, enfeitando uma praça pública, mas, um depoimento escrito, terá uma validade e sua lembrança nunca será esquecida!
Como gosto de coisas curiosas e inusitadas, escolhi um minúsculo ser vivo, mas, responsável direto da ampliação demográfica, que, como em toda coletividade, sempre ocorre ter suas peculiaridades pouco observadas pelos cientistas, já que se trata de detalhes, gostos, comportamentos e hábitos que não alteram suas reais funções vitais.
Seu nome na moradia escrotária coletiva era Luiz. Velho morador que por ser curtidor, sempre se escorava nas ejaculações, evitando ter que nadar bastante numa competição e, depois de vencer a disputa, ainda ter que se transformar em um ser humano, personagem que não tinha sua modesta admiração. Além de ser cheio de poses, usava uns óculos Raiban, pintava os cabelos, vestia-se bem, fazia caras e bocas quando desfilava pelas avenidas do saco, demonstrando ou querendo demonstrar que era de uma qualidade superior. E o fato é que conseguia, pois tinha uma respeitabilidade nos ambientes sociais e comerciais, com um verdadeiro estatus de ser um especial. Era, sem dúvidas, não um esperma qualquer. Era um “esperminha” atrevido e cheio de poses, deixando uma imagem sólida de ser, realmente, diferenciado e especial!
Um dia, talvez já cansado da sua vida mansa veraneando nos testículos, resolveu participar da próxima cópula do seu hospedeiro, caprichando na natação e, logicamente, futuramente curtir esse tumultuado mundo capitalista na sua nova condição de humano. E, não demorando muito, sentiu a excitação erótica do seu ejaculador, imediatamente colocou nadadeiras, óculos, passou óleo no corpo e preparou-se psicologicamente para ir de encontro ao ovário cumprir sua função. Não precisa dizer que ele ia à frente nadando estilo “borboleta” que era sua especialidade e já estava sentindo que chegava a hora de partir para a liberdade de criação. Mas, por ironia do destino, tratava-se de um boquete e a moça, depois de receber a carga que Luiz liderava tranquilamente, levantou-se, foi ao banheiro e cuspiu no ralo, onde o nosso querido espermatozóide aos gritos de socorro que não eram ouvidos, descia o esgoto onde morreu, sem glorias e sem completar o seu ciclo de vida determinado divinamente.
Mas, mesmo com essa morte inglória, jamais esquecerei esse pequeno ser vivo que, mesmo não conseguindo, viveu e lutou para contribuir povoando o mundo!

*Escritor (Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com -  antoniodaagral26@hotmail.com)

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