Antonio
Nunes de Souza*
Todos
os seres vivos merecem, quando são diferenciados, serem perpetuados na
história, tornando-se lembranças afetivas e efetivas de vidas especiais e
dignas de serem relembradas com carinho, já que em muitas ocasiões (como essa)
não comportaria um monumento feito e projetado pelo grande escultor grapiúna Lavrud
Durval, enfeitando uma praça pública, mas, um depoimento escrito, terá uma
validade e sua lembrança nunca será esquecida!
Como
gosto de coisas curiosas e inusitadas, escolhi um minúsculo ser vivo, mas,
responsável direto da ampliação demográfica, que, como em toda coletividade,
sempre ocorre ter suas peculiaridades pouco observadas pelos cientistas, já que
se trata de detalhes, gostos, comportamentos e hábitos que não alteram suas
reais funções vitais.
Seu
nome na moradia escrotária coletiva era Luiz. Velho morador que por ser
curtidor, sempre se escorava nas ejaculações, evitando ter que nadar bastante
numa competição e, depois de vencer a disputa, ainda ter que se transformar em
um ser humano, personagem que não tinha sua modesta admiração. Além de ser
cheio de poses, usava uns óculos Raiban, pintava os cabelos, vestia-se bem,
fazia caras e bocas quando desfilava pelas avenidas do saco, demonstrando ou
querendo demonstrar que era de uma qualidade superior. E o fato é que
conseguia, pois tinha uma respeitabilidade nos ambientes sociais e comerciais,
com um verdadeiro estatus de ser um especial. Era, sem dúvidas, não um esperma
qualquer. Era um “esperminha” atrevido e cheio de poses, deixando uma imagem
sólida de ser, realmente, diferenciado e especial!
Um
dia, talvez já cansado da sua vida mansa veraneando nos testículos, resolveu
participar da próxima cópula do seu hospedeiro, caprichando na natação e,
logicamente, futuramente curtir esse tumultuado mundo capitalista na sua nova
condição de humano. E, não demorando muito, sentiu a excitação erótica do seu
ejaculador, imediatamente colocou nadadeiras, óculos, passou óleo no corpo e
preparou-se psicologicamente para ir de encontro ao ovário cumprir sua função.
Não precisa dizer que ele ia à frente nadando estilo “borboleta” que era sua
especialidade e já estava sentindo que chegava a hora de partir para a
liberdade de criação. Mas, por ironia do destino, tratava-se de um boquete e a
moça, depois de receber a carga que Luiz liderava tranquilamente, levantou-se,
foi ao banheiro e cuspiu no ralo, onde o nosso querido espermatozóide aos
gritos de socorro que não eram ouvidos, descia o esgoto onde morreu, sem
glorias e sem completar o seu ciclo de vida determinado divinamente.
Mas,
mesmo com essa morte inglória, jamais esquecerei esse pequeno ser vivo que,
mesmo não conseguindo, viveu e lutou para contribuir povoando o mundo!
*Escritor
(Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com - antoniodaagral26@hotmail.com)
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