sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A EXPERIÊNCIA DE SÃO BENEDITO! (DOIS)

 

Antonio Nunes de Souza*

Como prometi e nunca deixo de cumprir, estou dando sequência a religiosa e sagrada missão do grande e venerado S. Benedito!

Aportou em Salvador através de uma ação milagrosa do Senhor, sendo esta a última que receberia, até o dia de seu retorno, ou seja, seis meses depois, tempo suficiente para ele questionar, estudar, analisar, conviver e, certamente, tirar suas conclusões e levar seu relatório oficial!

Para ficar no centro da cidade e no pedestal da negritude, escolheu um hotel de classe quatro estrelas no Pelourinho, foi para seu apartamento, onde, por sorte, da janela descortinava uma linda vista para a casa Jorge Amado e as sedes dos famosos blocos Olodum e Filhos de Gandi! Podia-se dizer que estava no centro das atenções de Salvador, e dos turistas nacionais e do mundo inteiro!

Comprou logo nas lojinhas instaladas na rua, camisas estampadas, bermudas, sandálias e três bandanas e, num piscar de olhos, estava um autêntico baiano, até com o charme do sorriso e o andar que, santificadamente, já tinha se preparado para enfrentar os bate papos, e as conversações com os nativos!

Tomou um táxi, foi para o Shopping Barra, e lá comprou umas calças Jeans, camisas, camisetas regatas, cuecas, bermudas discretas e coloridas também, sandálias abertas e fechadas, dois tênis e outras coisas básicas, que todos nós sabemos quais, principalmente um celular de ponta, que é a maior arma de comunicação do momento, e um notebook para escrever seu relatório!

Gastou uma puta nota, mas, como a verba de representação era liberada, nem se incomodou com esse detalhe. Mandou bala!

Voltou das compras ao anoitecer, tomou um bom banho numa enorme Hidro massagem, que lhe deixou fascinado e pensou: “no céu não tem nada disso!”

Vestiu uma das roupas que havia comprado e, olhando-se no espelho, logo disse: ESTOU BONITO PRA CARALHO! (Vale dizer que tinha permissão para usar o linguajar dos terráqueos, mesmo os feios e chulos, para que não despertasse desconfiança). E Benedito, já sentindo-se um “afrodescendente baiano”, não economizou as expressões locais, aprendidas telepaticamente, pela sua condição de santo, antes de sair do céu. Era sexta-feira, fim de semana, dia que a vasta boemia fervilhava no Pelô, com os ensaios das bandas, euforia dos turistas vermelhões das praias, e seus requebrados fora dos compassos, mas, nas cadências dos tambores! Benedito acercou-se de um bar movimentado, encostou no balcão, e o barman perguntou logo: Diga aí Bahia, o que é que manda? Ele respondeu: Quero uma xícara de chá de erva cidreira quentinha!

-Qualé negão, quer zombar da minha cara? Essa porra aqui é um bar, e não farmácia de produtos naturais. Deixe de sacanagem e diga logo o que deseja mermão e, enquanto pensa, vou trazer uma dose de cana da boa para você experimentar!

O garçom trouxe um copinho de Pitú, cachaça pernambucana da boa e ele, numa talagada só, bebeu a zorra. Depois de dar umas duas torcidas e cuspir, falou: Porra cara, a merda saiu queimando minha garganta e meu estômago, e foi até o olho do cu. Que bebida forte retada é essa?

-Cachaça mermão! E essa é a que dizem por aí que matou o guarda! rs rs rs

–Como sabia que fazer mistura de bebidas não era legal, continuou tomando suas doses de pinga, e o garçom perguntou o seu nome, ele disse que era Benedito, e logo foi tratado pelo garçom como Bené!

-Lá pras 22 horas começou a ouvir uns tambores cheios de encantos, e foi informado que era o começo do ensaio do Olodum. Pagou a conta, deu uma gorjeta ao já seu amigo Vavá e colocou a cara na rua!

Vale dizer que tomou o maior susto, ao ver aquele avalanche de gente, mulheres batendo na canela e, para alegrar mais, se requebrando de tal forma, e numa esfregação tão grande que, se ele não fosse Santo, se excitaria na hora!

Mas, mesmo com a sua santidade, porém, com o juízo cheio de cana, terminou entrando no meio, aproveitando todas as sacanagens, aprendeu logo os passos fundamentais e, sem nem lembrar da sua missão, pegou uma negra gostosa e fogosa que requebrava em sua frente, e aos poucos foi se aclimatando, e ela espertíssima, vendo aquele negão bem arrumado e apessoado, encostou-se de costas, colocou suas mãos em volta da sua cintura, começou a mexer sua linha bunda em sua virilha que, em minutos, Bené já estava armado até os dentes, aconchegado na convidativa regada provocante. Ao mesmo tempo ele pensava: “Quando eu voltar para o céu e contar, nenhum Santo vai acreditar!”

Já na madrugada, ela foi para casa com as amigas, trocaram telefones e ficaram de se falar no dia seguinte. O fato é que na ladeira do Pelô, só deu Bené e Diva (esse era o nome dela)!

Chegou cansado pra cacete, tomou um bom banho, pediu no hotel uma pizza para se alimentar para o dia seguinte. Comeu legal, olhou-se no espelho, deu uma risadinha de felicidade, deitou e se apagou, sem nem escrever uma linha, sobre a primeira noite de experiência soteropolitana!

Como suas experiências daqui para frente, serão mais apimentadas que nem os acarajés e abarás, vou deixar para a número três, que logo estarei escrevendo com detalhes!

*Escritor – Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras–AGRAL  

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