sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O PRECONCEITO NÃO TEM COR!

 

Antonio Nunes de Souza*

A grande confusão estava formada no bar, onde desenrolava um pagode fervoroso. Uma porradaria grossa, cadeiras voando, garrafas e copos quebrados, mesas viradas, caras quebradas, etc. Aí, alguém em sã consciência, ligou para a polícia, que em cinco minutos chegou em dois carros, já dando tiros para cima, no sentido de fazer com que parassem com aquela guerra urbana!

Muitos foram saindo sorrateiramente, por não terem nada com a história, ficando no meio do salão os contendores e suas mulheres acompanhantes, todos aflitos e com alguns ferimentos!

-Qual foi a causa dessa desavença e quem provocou? Disse o sargento chefe da patrulha!

- O caso foi o seguinte: Minha sobrinha estava sambando no salão e esse cara chegou pra ela e disse: posso dançar com você minha pretinha? Aí eu ouvi e achei que era uma ofensa preconceituosa e fui tirar satisfação!

-Qual é a sua prima?

-É essa aqui! Mostrou apontando para uma moça negra e bonita!

-Mas, ela não é pretinha? Negra? E ele também não é negro?

-Ah mas, ele devia dizer: vamos dançar moça? Chamar de pretinha, para mim foi uma ofensa e uma maneira de menosprezar minha querida prima. Eu revoltado, dei logo um murro nele, defendendo a honra de minha sobrinha, e aí começou a confusão!

-Creio que você foi precipitado, pelo visto todos vocês são afrodescendentes, e não podem de hipótese nenhuma se incomodar de entre si, tratarem-se de pretos, negros, mulatos, etc.!

-Vocês mesmo, muitas vezes criam problemas onde não existem, ou deveriam não existir. Se por uma casualidade uma pessoa considerada branca, chamar uma mulher de cor de neguinha, vocês querem logo prender, cobrar danos morais, etc., mas, se uma pessoa negra chamar uma pessoa clara de branquinha, acham que é normalíssimo. Se for seguir a regra que vocês ditam perante as leis, trata-se de uma ofensa e preconceito de cor da mesma forma. Somos todos “pessoas”, sendo cada um com suas características étnicas, sendo nada demais nos tratarmos com as cores que cada um tem!

-O que não é admissível e intolerável é chamar de preto, negro, branço ou amarelo, com efeito pejorativo e desrespeitoso! Mas, minha neguinha, pretinha linda, nêga bonita e outras expressões carinhosas, devem ser recebidas com meiguice, entusiasmo e afetividade!

-Não vou levar ninguém para a delegacia, sendo que o senhor que foi quem começou a briga por motivo fútil, pagará todo prejuízo do bar, e depois vão para suas casas, sem seus conceitos absurdos de preconceitos, onde na verdade, nada existe que justifique!

Percebe-se, claramente, que algumas vezes os preconceitos exagerados partem acintosamente dos próprios negros. Uma maioria absoluta, quando melhoram de condição financeira, dificilmente se casam com mulheres de sua cor ou suas comunidades, procuram logo uma branca, ainda mandam tingir de louras, provando, literalmente, que não amam tanto as suas origens. Isso, lamentavelmente, é público e notório, principalmente nas áreas esportivas e artísticas!

*Escritor – Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL

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