Antonio
Nunes de Souza*
Aos gritos e choro convulsivo
Maria Tereza, segura por dois fortes enfermeiros, descia da ambulância no pronto
socorro. Todos assustados olhavam para aquela moça, completamente desarrumada,
porém deixando ainda transparecer a sua beleza, procedendo daquela forma. Um
deles foi logo dizendo alto para todos: Essa deve ser uma das patricinhas
riquinhas que encheu o cu de drogas!
Assim que a soltaram e colocaram-na
sentada, levantou-se rapidamente e correu para a janela (estavam no segundo
andar) tentando se atirar. Mas, foi contida pelos enfermeiros. Sem parar, sua
frase normal era a mesma e cada vez mais alta: Meu Deus eu quero morrer!
Chamaram um clínico que a examinou e nada pressentiu de anormal a não ser a histeria
que se apoderava dela. Então solicitaram a presença de um psiquiatra e esse,
dando-lhe um calmante, sugeriu que fosse melhor a presença de um psicólogo para
conversar com ela e tentar saber a razão do seu desejo alucinante de morte.
Deixaram que ela dormisse,
antes lhe dando um banho completo, pois estava imunda da cintura para baixo. E,
quando acordou, quatro horas depois, já mais calma, porém aos prantos, pediu a
presença de um médico para saber o seu estado. Veio o psicólogo, juntamente com
o psiquiatra e juntos começaram um papo agradável com bom humor, demonstrando
que eram confiáveis e que lhes seriam úteis. Porém, sempre meia sem graça e com
o olhar baixo, não deixava de repetir a sua mórbida frase com relação a morrer.
-Minha filha, por favor, nos
conte o que houve para lhe deixar nesse estado tão estranho. Sabendo as razões
é bem mais fácil se achar as soluções! Falou o psiquiatra, um senhor de cabelos
grisalhos que com sua aparência paternal, fazia seus pacientes se sentissem mais
a vontade. E o psicólogo se retirou.
-Doutor eu vou contar embaixo
da maior vergonha da minha vida, mas, depois eu quero que o senhor me prometa praticar
a eutanásia comigo.
-Vou lhe ouvir, discutir os
fatos e depois, resolveremos isso.
Combinado! Mas, confio no senhor com as maiores esperanças mortais. Eu
sou estudante de direito e fui convidada por um homem que é um engenheiro bem
sucedido e já tínhamos trocados alguns olhares e poucas palavras quando nos
encontrávamos no elevador, já que moramos no mesmo edifício. Aceitei, me
preparei completamente, indo ao salão e fazendo todas as coisas que se faz para
estarmos prevenidas para qualquer coisa que venha acontecer. Mas, por ironia do
destino o que me aconteceu foi uma tragédia! Quando estávamos jantando minha
barriga começou a fazer determinados ruídos e comecei a sentir uma agonia no
intestino, calmamente dei um pum daqueles silenciosos que são apelidados de
samurai (chegam em silencio e mata qualquer um). Foi um fedor tão desgraçado
que nem eu suportei, deixando todos da mesa completamente sem graça. Passados
dez minutos e aí larguei outro, desta vez um ninja que até o pessoal da mesa
vizinha se levantou e pediu ao maitre para mudar de lugar. A essa altura eu
suava por todos os poros, sem saber onde meter a cara, pois, pelos olhares do
outro casal, percebia-se claramente que só podia ser ou eu o meu acompanhante
e, como ele estava muito seguro de si, eu era a resposta para a curiosidade de
todos. Jantamos rápido e saímos, pois não tinha clima para demoras. Então dei
graças a Deus, pegamos o carro e fomos direto para o condomínio. Porém ao longo
do caminho me senti mais aliviada e sem agonia, já de mãos dadas, aceitei seu
convite para ir até o se AP que era dois andares acima do meu. Lá chegando
começamos a conversar, sentados em um lindo sofá branco, aos pouco já estávamos
trocando carícias bem íntimas. E, meu Deus, foi aí que começou a tragédia! Dei
um peido bem alto e daqueles de carretilha que não se pode disfarçar e o fedor
foi tamanho que ele foi para a varanda da janela tomar ar. Totalmente
desesperada, corri para ele abraçando-o e pedindo milhões de desculpas. Ele com
o nariz vermelho, como um cavalheiro elegante, me abraçou fortemente e disse:
Isso acontece meu bem! Esse abraço foi mesmo que uma bomba, pois no mesmo
instante eu me caguei toda, a merda escorrendo pelas pernas, aquilo parecendo
vatapá, porém com fedor de feijoada podre! Saí correndo para o sanitário
deixando atrás de mim um rastro de merda fétida e desastrosa. Ele vendo aquela
situação grotesca, imaginou que eu estava podre por dentro logo chamou o SAMU.
E eu trancada no sanitário sem nenhuma coragem para sair e encarar a situação.
Foi quando chegou a ambulância, a notícia num minuto se espalhou pelo edifício
e, na frente do AP dele já tinha dezenas de amigos e curiosos. Os enfermeiros
pegaram um lençol que Jamil deu, cobriram minha cabeça e me trouxeram para
aqui! Vim cagando por todo caminho, os enfermeiros com máscaras e eu gritando
que quero morrer, depois dessa tremenda vergonha!
-Pronto doutor, essa é minha
triste história e peço agora que veja se tenho ou não tenho razão!
-Você tem toda razão minha
filha, foi uma situação filho da puta que deixa qualquer mulher completamente
desequilibrada. Pensei, refleti, nunca fiz isso, mas, vou agir da maneira mais
sensata: Pegou uma seringa com uma injeção de cianureto, aplicou na pobre
mulher para ela ir matar o diabo sufocado nas profundezas do inferno! Nisso
retorna o psicólogo entra e pergunta o que houve. E o psiquiatra responde
calmamente: A coitada deu um enfarto fulminante e morreu. Pobre coitada!!!
*Escritor – Membro da
Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagral26@hotmail.com