Antonio Nunes de Souza*
Como todo
ano, comemora-se o “Dia do índio” fazendo-se alguns festejos nas poucas aldeias
que ainda conseguiram sobreviver, apreciamos os nativos apresentando danças e
alguns restantes costumes culturais, envergando suas belas indumentárias
ornamentadas e cheias de penas, proporcionando espetáculos cheios de purezas
ainda existentes, geralmente, para a alegria e curiosidade dos ditos homens
brancos que, sem penas nenhumas, com suas atitudes grotescas e desumanas, cada
dia procura dizimá-los e tomar suas terras, sem nenhum respeito às leis e os
direitos desse povo, originariamente, brasileiro. Nesse momento, aqui na
região, os Pataxós estão invadindo na “marra” as fazendas (já está em mais de
oitenta), criando uma situação insustentável para ambos os lados e difícil
conciliação para as autoridades!
Vergonhosamente,
desde a chegada dos portugueses ao Brasil, quinhentos anos atrás, que os índios
sofrem barbaridades através de escravaturas e, aqueles que não se submetiam,
eram aniquilados como verdadeiros animais, sem entenderem qual a razão de tais
atitudes, já que eram pacíficos (embora desconfiados) e recebiam todos que
aportavam como se fossem curiosos visitantes.
Passadas essas
centenas de anos, com a introdução da miscigenação de raças (pretos, brancos,
índios, amarelos, etc.), grande parte dos índios perderam suas características
físicas, incorporaram hábitos e costumes das cidades e comunidades civilizadas
(?), inclusive, através de uniões e constituições de novas famílias, muitos que
nunca viram uma flecha, a não ser a do Cupido, pelas comodidades e algumas
assistências governamentais, travestiram-se de filhos, netos ou bisnetos de
antigos caciques, bastando para tanto uma pintura no rosto, colares e algumas
peninhas na cabeça. Lamentavelmente, esses oportunistas são os mais criadores
de casos e, se vacilarem na comunidade indígena que vivem, imediatamente se
proclamam caciques para gozarem de determinados privilégios!
Já finalizando
minha licenciatura de história, questionei em algumas aulas sobre esse assunto,
pois, não concordo que os índios incorporem tudo de moderno da civilização
(carro, ar condicionado, DVD, computador, celular, máquina de lavar, televisão,
refrigerador, etc.) e, nas horas das reivindicações, reúnem-se em grupos e
filas indianas balançando chocalhos rudimentares, emitindo cânticos em
estranhas linguagens e pitando cachimbos de barro (quando, normalmente, fumam
Carlton). Isso é uma contradição bastante paradoxal, pois, na hora que querem
algo substancial (por direito ou não), apresentam-se como pobrezinhos
sofredores. Mas, quando estão tranqüilos em suas comunidades, agem e querem
usufruir de todas as mordomias vistas nas grandes cidades, esquecendo de suas
culturas por eles mesmo acharem obsoletas. Já que o importante é a preservação
cultural (costumes e hábitos), me pergunto sempre: Por que eles não continuam
se comunicando com sinais de fumaça ou batidas de tambores em vez de celulares?
Por que não continuam se deslocando com lindos vôos nos cipós da selva e
preferem caminhonetes cabines duplas ou aviões?
Como diria
um conhecido político nosso: é uma faca de três gumes!
Eu prefiro
uma de dois gumes, mas, o ideal seria que todos se agregassem numa única sociedade,
cada grupo étnico conservasse sua cultura (como o negro e outros já fazem),
porém incorporados às leis e determinações que são regidas para todos, uma vez
que, pelo andar da carruagem, não teremos nem um índio autêntico para, daqui a
alguns anos, comemorarmos essa data.
Como na
verdade essa situação é complexa e confusa, prefiro deixar aos cuidados dos
sociólogos e indigenistas, guardar minhas opiniões para conversa de botequim e
me amparar na canção de Rita Lee, que diz: “Todo dia é dia de índio!”
Parabenizo
todos os índios pela passagem do seu dia, reconhecendo que, para eles, meu
apito é surdo!
*Escritor
(Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com
– antoniomanteiga.blogspot.com)
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