sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Encontro Casual!


Antonio Nunes de Souza*

Era uma daquelas tardes que, embora cedo, desaba uma monstruosa chuva, o céu torna-se escuro, o sol desaparece e, como acontece com quase todas as ruas brasileiras, a água começa a acumular em abundância, fazendo com que as pessoas que transitavam naquele momento, se enchessem de pânico e preocupações normais de um transeunte. O vento colocava pelo avesso os guarda chuvas e sombrinhas de quem ousava abrir para se proteger.
Os mais atirados e afobados corriam em disparada, procurando encontrar transporte ou abrigos que fossem compatíveis com as necessidades daquele momento. Quando Mônica deu por si, estava sozinha no abrigo e ponto de ônibus, vestido completamente molhado, seus cabelos, lisos e finos, escorriam aos pingos, enquanto seu rosto banhava-se pelos fortes gotas que caíam abundantemente. Ao perceber sua solidão e a paralisação de movimento de transportes, ausência de táxis, inclusive carros particulares, imediatamente recorreu ao celular, mas, como sempre acontece, com a situação climática naquele estado, as ligações não são completadas e somente ouvimos a fatídica frase: Fora de área ou desligado! Como não conseguiu falar com o trabalho para pedir que alguém fosse buscá-la, ficou sem opções familiares, já que morava na cidade somente com o marido, e este estava viajando e não poderia socorrê-la. Além do frio que fazia, aquela roupa ensopada deixava o seu corpo já tomado pelo pavor, arrepiado e com tremores de calafrios. Passaram-se uns quinze minutos, que pareceram horas e, por incrível que pareça, não parou nem uma pessoa no ponto e nem passou um taxi, van ou ônibus para qualquer lugar que fosse, apenas para lhe proteger e levar até um ambiente seguro. Nessa hora, as orações não são dispensáveis nem pelos mais ferrenhos ateus, pedindo a Deus que acuda e faça acontecer algo miraculoso e salvador. E, como um verdadeiro milagre divino, parou um carro preto e, descendo automaticamente o vidro do lado do carona, um senhor de meia idade, cabelos grisalhos, aparência confiável, voz sedutora e firme, falou:
-Senhorita, é muito perigoso você estar aí sozinha, rua já alagando, sujeita a assalto e outros problemas mais graves. Vou lhe dar uma carona até localizar um taxi e poderá seguir para casa ou trabalho.
Sua reação imediata era de recusar, mas, como fazer numa situação tão atípica e, realmente, constituindo perigo, uma vez que aquele local não era, mesmo em condições normais, dos mais seguros e tranqüilos. Chegou perto da porta, me olhou com certa desconfiança, mas, como tenho uma aparência confiável e ela não tinha outra alternativa, disse:
-Muito obrigado! Vou aceitar sua generosidade e solidariedade, pois seria uma louca se assim não fizesse, uma vez que estou numa situação inusitada e sem opções.  Entretanto, no primeiro ponto de taxi que passarmos o senhor me deixará para eu seguir meu destino.
-Fique tranqüila que farei isso com muito prazer e será minha boa ação do dia. Falei com um sorriso, talvez para quebrar o pânico estampado em seu lindo rostinho. Ela entrou e como sou muito observador, pude perceber suas grossas e lindas pernas torneadas, seus seios estavam intumescidos pelo tecido molhado, podendo-se ver, claramente, suas tetinhas apontando para frente, dando uma sensação de desejos libidinosos. Sinceramente, depois dessa visão, quando também percebi que, mesmo com estatura baixa, toda molhada e desarrumada pela chuva, não deixava de ser uma mulher desejável e bela com curvas sedutoras. Percebia-se que era uma mulher feita e casada (usava aliança), porém, seu jeitinho assustado e a carinha angelical davam-lhe um ar de ninfeta!
-Tenho que agradecer a Deus ter enviado o senhor nessa hora tão desesperadora.
-Foi Ele que me mandou e pediu que eu fosse o mais rápido e gentil possível! Disse num tom divertido que, mesmo na situação, ela deu um sorriso, mostrando seus dentes bonitos e uma boca sedutora. Pude perceber, mais uma vez, que as mulheres, quando sem maquiagem, livres dentro da simplicidade, ficam mais lindas e provocantes, muito mais que quando estão cheias de blanches, batons, pinturas, penteados, sombras e outros artifícios usados no dia-a-dia. Para mim foi inevitável, a partir daquela hora, não deixar de olhá-la com um modesto e inicial desejo libidinoso, já achando que algo poderia acontecer de bom. Ou seja, uma bonança durante ou depois da tempestade!
O lugar onde encontrei Mônica foi na Avenida paralela. Curiosamente, eu estava indo para a Ribeira pegar uns documentos da minha empresa e ela estava indo para casa na Baixa do Bonfim. Então... minha carona foi uma dádiva, já que nossos destinos eram conhecidentes. Ela chegou a suspirar de alívio e concordar aceitar seguir comigo até o seu endereço. Esses fatos conhecidentes, criaram uma confiança de antigos conhecidos, pois, mesmo com apenas menos de uma hora conversando no carro (o trânsito estava horrível), já mantínhamos um diálogo mais solto e confiável. Falei que tinha necessidade de passar em meu apartamento para pegar algumas coisas (moro na Barra) antes de seguir. Porém, pouco me demoraria e, como ela estava tendo calafrios em função da roupa completamente molhada, ofereci que ela subisse e que eu lhe daria uma camisa social e uma regata que ela poderia usar e, posteriormente, me devolver, evitando assim que ficasse gripada, já que, por mais rápido que eu fosse, pelo trânsito, demoraria algumas horas. E, para minha surpresa, ela aceitou minha sugestão, deixando transparecer que minha companhia não lhe assustava.
Subimos, dei as roupas, ela vestiu e para fazer a cintura, forneci uma gravata que combinava com as cores e dava um toque especial. Ela escovou os cabelos, colocou um batom e, sinceramente, ficou super sedutora, com uma imagem bem moderna e sexy, mesmo que a sua intenção não fosse essa! Dei-lhe um abraço e a elogiei, dizendo-lhe que estava bem melhor agasalhada e vestida de uma maneira nada convencional. Ela sorriu e falou que era melhor nós irmos, pois já era 17:40 h e precisava estar em casa as 19:00 para liberar a empregada.
Descemos e, ao chegar na garagem, a água tinha  invadido e estava nas portas dos veículos que ali estavam estacionados. Isso foi um baque, não só para ela como também para mim. Fiquei preocupado e irritado com a situação, controlando-me para não passar o meu desespero para Mônica, que, aquela altura, ligava para casa para falar com sua empregada. Conseguiu e combinou que chegaria atrasada e que ela poderia ir, pois, não adiantaria esperá-la.
Como não havia nada que pudéssemos fazer, resolvemos voltar para o apartamento, pois lá estaríamos mais bem instalados e poderíamos ver na TV as notícias sobre as chuvas e as previsões. Peguei uma garrafa de um bom vinho e, mesmo sem perguntar se ela aceitaria, coloquei em duas taças e ofereci para brindarmos nosso inesperado e casual encontro! Brindamos e eu, aproveitando a oportunidade, dei-lhe um abraço apertado e beijei-lhe a testa. Ela, por sua vez, deixou-se ser abraçada numa pegada nada inocente e, sem que eu esperasse, beijou-me o rosto em ambos os lados. Nossos olhares se cruzaram e, pude perceber que a nossa simpatia era recíproca e poderia acontecer alguma coisa agradável, mesmo numa situação tão complicada.
Enquanto a chuva, torrencialmente, caía sem parar, bebemos mais duas garrafas de vinho, comemos alguns queijos com mais algumas guloseimas que tinha em casa e aproveitamos para descer até a garagem para ver como estavam as coisas. Pior não poderia estar! A água subiu mais ainda, impossibilitando a entrada ou saída de qualquer veículo daquele local, como também o alagamento das ruas não dava condições de nenhum tráfego.
Aí subimos para ver o que poderíamos fazer, já que estávamos ilhados, porém, felizmente, agasalhados e guarnecidos. Quando subimos o elevador, já a abraçava pela cintura e ela a mim, parecendo que nossa intimidade era antiga. Mas, eu percebia que ela estava assustada, porém se sentindo feliz e contente de estar ao meu lado. Na verdade, os desejos eram recíprocos. Sentíamos uma atração a primeira vista e, com certeza, seria capaz de acontecer alguma coisa. E não deu outra! Sentamos no sofá em frente a TV e, em alguns minutos, já estávamos nos acariciando aos beijos, ela quase no meu colo e comecei a desnudá-la bem meigamente, sentindo que ela estava feliz e se entregando como muito tempo não fazia. Talvez a rotina que vivia, fez nascer nela à necessidade de uma aventura, quebrando os tolos preconceitos, apenas fazendo aquilo que o seu corpo desejava para satisfazer suas vontades reprimidas. Sentia que naquela hora ela não cultuava pecados, e sim realizações, que se não aproveitadas, jamais voltarão.
Amamos das mais diversas maneiras, gostos e desejos, sem dar valor aos pudores repressores das espontâneas ações, cujos resultados de prazeres eram, para nós, o importante nesse inesquecível encontro. Foram momentos inusitados e ricos de luxurias, liberdades e libertinagens, que, mesmo para mim, experiente e traquejado, parecia um manancial de novidades, dado a participação liberal e tranqüila daquela pequena parceira que, no leito, transformou-se numa gigantesca personagem. Nessa hora eu confirmei o dito popular que: Os grandes perfumes estão nos pequenos frascos!
Cansados, dormimos no sofá, entrelaçados como se fôssemos siameses, eu ainda dentro dela como um cordão umbilical, vivendo uma experiência mágica, doce e marcante.
Somente acordei no dia seguinte as 07:00 h e, ao olhar para o lado, apenas vi um bilhete:
Prezado Lúcio Flávio,
Cometi uma das maiores loucuras da minha vida. Mas, sinceramente, foi uma coisa maravilhosa que aconteceu e, pelo que percebi, era necessário quebrar certas rotinas que deixam meu casamento num mar de mesmices. E você foi maravilhoso, respeitador, honesto e apareceu na hora exata que deveria. Acho que Deus lhe mandou e o diabo tomou as outras providências (RS RS RS ).
Desejo-lhe tudo de bom e creio que jamais nos encontraremos, a não ser que ocorra um novo dilúvio de Noé! (RS RS RS )
Com carinho,
                 Mônica                    
Só resta dizer que nunca mais soube ou me encontrei com essa maravilhosa mulher e, às vezes, imagino até que tudo não passou de um sonho meu de tão maravilhoso que foi!

*Escritor (Blog Vida Louca – antoniodaagral26@hotmail.com)

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