sexta-feira, 24 de maio de 2024

UM FATO SURREAL QUE JAMAIS ESQUECEREI!

 

Antonio Nunes de Souza*        

Por ter se fixado em minha memória nesses dois dias, e, logicamente não dará pra esquecer, guardarei a sete chaves, nunca confessando para pessoa alguma, uma vez que não terei coragem, como também complicaria minha própria vida e de alguém que amei durante toda minha existência!

Sendo um dia triste hoje, pois, nesse momento estou retornando do cemitério, onde fui enterrar meu querido esposo Alberto, E andando no caminho de volta para casa, já que moramos por toda vida num lindo sítio próximo ao Cemitério São João Batista. Mesmo cercada de amigos que me consolavam, essa lembrança veio em minha mente, como se o fato estivesse começado e acontecido naquele dia e naquela hora!

Eu era jovem, terminando a faculdade com meus vinte e quatro anos, cheia de alegria e felicidade, fui ao Banco Bradesco para fazer um depósito que meu pai pediu e, por um azar incrível, logo que entrei, em seguida entraram dois homens armados fortemente e anunciaram o assalto, gritando que todos deitassem no chão, o que fizemos imediatamente, estando eu ainda perto da porta de entrada. Eles com rapidez, pois, o alarme foi acionado por alguém, pegaram duas sacolas enormes de dinheiro, deixadas provavelmente por algum carro forte depois do recolhimento, e ao sair, ouviram as sirenes da polícia, e o que vinha atrás me puxou pelo braço, levando-me como refém. Tomei um brutal susto, ele me empurrando para o carro e eu já chorando e assustada, entrei, enquanto o outro acelerava velozmente, fugindo em uma perseguição perigosa, e eu, totalmente amedrontada, pedia que deixassem eu saltar mesmo com o carro em velocidade. Mas, ele disse apenas que eu calasse a boca e que eu era a sua garantia de vida, caso fossem alcançados. Os dois usando meias nos rostos, que além de deformar as feições, escondia completamente os rostos!

Depois de vários ziguezagues pelas ruas transversais, eles terminaram escapando da polícia. Aí um deles disse: o que vamos fazer com ela? E ao ouvir isso, tremi de pânico e comecei a chorar. Foi quando o outro me abraçou e disse: Calma moça, vamos lhe deixar perto de um ponto de táxi para você ir para casa. Isso me deu um grade alívio, e ele fez exatamente como disse. Saltei rapidamente, mesmo com as pernas tremendo, e saí quase correndo, que até esqueci de pegar minha bolsa, para poder pagar o táxi, mas, lembrei-me que chegando em casa meu pai pagaria. Naquele momento o importante é ter escapado de morrer, e estar voltando sem ferimentos!

Ninguém em casa ainda sabia de nada, pois, o fato tinha ocorrido apenas tendo menos de uma hora, porém, logo contei e todos ficaram assustados, eu nem cheguei a fazer o depósito, mas, infelizmente, larguei minha bolsa com ele dentro, e jamais voltaria a ver. Meus pais, preocupados, me deram água para me acalmar, sentei-me e comecei a chorar de tão nervosa que estava, com essa situação que jamais imaginei acontecer comigo, pois, sempre achamos que tudo só acontece com os outros, e sempre facilitamos!

Passados alguns dias, mandaram uma mensagem para mim através do celular de meu pai, dizendo que havia encontrado minha bolsa, numa beira de estrada, inclusive com documentos e um envelope com certa quantia em dinheiro. Essa notícia me deixou super feliz, pois, imaginei que eles não sabiam que havia dinheiro e jogaram minha bolsa para fora do carro. Logicamente, meu pai solicitou que pessoa fizesse a gentileza de devolver, que seria gratificado. A pessoa, gentilmente, falou que não seria necessário, que apenas estava entregando algo ao real dono, já que não lhe pertencia. Assim, combinou que iria, disse que ligou para meu pai, pois viu no meu celular o número escrito “meu pai”, e seria a pessoa mais certa para se comunicar e a notícia chegar a mim!

Dia seguinte, as 20 horas o homem apareceu, parou seu carro em nossa porta, saltou, vi que estava com minha bolsa na mão, dei um grande sorriso de alegria, que quase avancei para pegar, sem esperar que ele entregasse. Mas, como se estivesse lendo meus pensamentos, estirou o braço e me entregou. Agradeci muito, abri e conferi que estava tudo dentro, apenas desarrumada, por ter sido jogada na estrada e também ele deve ter mexido quando encontrou. Meu pai o convidou para ele entrar, nos sentamos na sala, minha mãe foi fazer uma cafezinho, foi quando notei que tratava-se de um homem bonito, elegante e bem vestido, demonstrando ser alguém de bem. Conversamos, batemos um papo agradável e, daí pra frente, passamos a ser amigos, ele foi algumas vezes em nossa casa, saímos algumas vezes e, como acontece, começamos a namorar, e com menos de um ano, nos apaixonamos e casamos. Os seus negócios eram em Vitoria do Espírito Santo, que ele sempre ia, pois, quando o conheci, ele estava exatamente montando uma grande loja de material de construção, que inaugurou, dias antes de nosso casamento. Fomos morar lá e vivemos felizes por quarenta e um anos, tivemos apenas um filho chamado Walter, que aposentou-se do Banco do Brasil, e já há algum tempo está à frente dos negócios da família!

Agora, pasmem todos vocês, pois, somente ontem, nos estertores da morte, foi que meu querido marido, confessou-me que foi ele e um amigo que assaltaram o Banco, e ele ficou impressionado com minha pessoa, resolveu devolver minha bolsa e talvez até ter uma eventual relação. Mas, ao aproximar-se, viu que eu era a mulher da sua vida, que ele não era marginal, apenas aquele foi o único crime que cometeu na vida, pois, estava desempregado e desesperado. E com a parte do seu dinheiro, montou a empresa, casou-se comigo, constituiu uma linda família, mas, de modo algum, não poderia morrer, sem que contasse esse importante fato para mim. Isso deixou-me chocada, principalmente, porque ele ao acabar de relatar o seu guardado segredo por décadas, pediu que eu não passasse para nosso filho essa página negra da sua vida, pois, foi através dela que me conheceu e fez sua felicidades por toda sua existência E, virando-se para o lado, faleceu vítima de um câncer nos rins, que já o atormentava há algum tempo!

Depois de passar esse filme em minha mente, apenas quis me deitar, descansar, lembrando-me do provérbio conhecido que diz: “Há males que vem pra o bem! E foi o que aconteceu conosco, que é um caso surreal, digno de um filme!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito bom dia amigo!