domingo, 9 de junho de 2024

COMO A IDADE NOS ILUMINA!

Antonio Nunes Souza*

Todas tendências são que nossas lembranças, com o passar do tempo, comecem se apagar das nossas velhas e cansadas mentes, virando cinzas, os momentos que queimamos nossos atos mais felizes e aprazíveis possíveis, como também, aqueles que nos deram transtornos, complicações e problemas. Mas, com certeza, todos foram úteis, já que grande parte nos deu somente prazeres, e os que não deram certo transformaram-se em experiências e saberes.

Mesmo com a decrepitude apitando em meu ouvido, como posso esquecer dos meus trinta e cinco anos brincando carnaval em plena Praça Castro Alves, junto com meus melhores amigos, atrás, na frente e encima dos trios, pulando, cantando, bebendo, fumando e numa esfregação deliciosa, com muitos beijos e abraços. Como foram belos e lindos as dezenas de vezes, que enfrentando um trânsito tenebroso, saíamos da Praça, só para ir ver a saída do Ylê Aiyê, o mais belo dos belos, lá na Ladeira do Curuzú!

Minhas idas encima dos trios com meu mano Caetano e Tatau puxando o Bloco do Araketo, olhando o carnaval de cima e, logicamente, dançando também, no circuito Barra/Ondina. Minhas gostosas saídas nos diversos blocos, já que Caetano tinha e tem sempre muitos Abadás, que todos os blocos mandar para ele e seus convidados. Sempre saímos em alguns, quando não resolvíamos sair circulando anonimamente pelas ruas!

Como poderei esquecer meus doze anos seguidos de convidado especial de meu querido Gil e sua amada Flora, para estar presente no seu camarote nababesco e histórico 2222. Assim como, no não mesmo luxuoso da divina Daniela Mercury. Nesses camarotes reúnem-se “o creme de le creme” dos globais, intelectuais e artistas da primeira linha da MPB. Humildemente, sentia-me super feliz.

Depois dessas porralouquices todas, descansávamos na quarta, quinta e sexta e eu alugava uma grande escuna no sábado, convidava uns trinta amigos maravilhosos, indo todos velejar pela Bahia de todos os Santos, parando na paradisíaca Ilha de Maré, para degustar uma deliciosa moqueca de peixe com camarão. Depois de visitar alguns monumentos históricos, encostávamos em praias completamente desertas e praticamente virgens, nos banhávamos em águas limpas e transparentes, admirando os peixes que passavam nos saudando sacodindo as caudas. Voltávamos felizes e bronzeados pra uma noite de descanso, conversas e amores. O sexo sempre era um participante indispensável. Também... depois dessas coisas todas, como deixar de finalizar as noites, sem um prazeroso gozo dos deuses?

Agora entra junho com outras glamorosas festas, e jamais poderia me esquecer das novenas deliciosas na casa de minha maninha Mabel, lá no Bairro do Tororó, onde tínhamos a oportunidade de rever amigos, brincar, danças, cantar e sorrir durante os dias do novenário. E aí as lembranças ficam mais acesas com as fogueiras juninas, armadas em todas as portas da minha querida cidade de Santo Amaro, onde saímos da Rua do Imperador até o Bomfim, entrando nas casas, bebendo deliciosos licores, comendo as iguarias na base do milho, queijos de cuia, voltando todos claudicando pelo caminho, graças os efeitos alcoólicos!

Lembranças não me faltam, mas, tenho que parar senão eu choro. Outro dia continuo, pois, quis apenas provar que, mesmo envelhecidos, nossas gostosas lembranças nos acompanham até o túmulo

Indubitavelmente, creio que sou um iluminado, pois, quase centenário, ainda ilumino a mente dos meus amigos e leitores, com minhas doces e simples crônicas!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um soa Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!


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